O governo federal vai rever a política de vacinação de febre amarela. A ideia é tentar limitar as áreas de risco e, com isso, a indicação de imunização de rotina. Atualmente, moradores de 3.527 municípios devem manter a vacinação em dia contra a doença - o equivalente a 45,44% da população brasileira. Em 2001, a recomendação era bem mais limitada: 1.943 cidades eram consideradas como de risco para a febre amarela.
A maior velocidade na expansão das áreas de risco ocorreu nos últimos cinco anos. De 2009 para cá, por exemplo, 809 cidades foram incluídas na lista de vacinação obrigatória. "Temos de analisar se tal expansão é de fato necessária. Se a lógica for mantida, dentro de algum tempo quase todo o país terá vacinação contra febre amarela", afirma o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
Pelos critérios atuais, são consideradas áreas de risco aquelas que registram casos em humanos e a presença de animais com a doença. Barbosa defende que outros pontos sejam avaliados. "A vacina também traz seus riscos", diz. Para ele, não faz sentido, por exemplo, determinar que uma cidade toda passe a ser vacinada diante da confirmação de contaminações isoladas, contraídas numa viagem. "Será que uma senhora de 70 anos, moradora de um centro urbano, tem de fato necessidade de ser imunizada?", questiona.
Efeitos colaterais da vacina são raros. Mas, quando ocorrem, podem ser muito graves - choque anafilático, encefalite, febre amarela provocada pela vacina. Problemas que podem levar à morte. "É preciso pesar custos e benefícios", completou.
Novo mapa
A expectativa é a de que o novo mapa seja definido até março. A proposta é de, em vez de vacinar toda população de uma região, dirigir esforços para grupos que mais se expõem ao risco de contato com ambientes silvestres, como jovens que fazem ecoturismo, pessoas que trabalham no campo. "A proteção estaria garantida e, ao mesmo tempo, reduziríamos o risco de uma vacinação desnecessária", diz Barbosa. Isso valeria, no entanto, para áreas onde o risco da doença fosse menor.
Na revisão, serão analisados os ecossistemas do País e a circulação do vírus entre primatas. Nesta semana, uma equipe do ministério deve conhecer um modelo matemático desenvolvido em São Paulo. "São estudos que avaliam os riscos das regiões do Estado", conta o professor da Universidade de São Paulo e coordenador do Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde de SP, Marcos Boulos.
O professor observa que, qualquer que seja a escolha, ela pode ser polêmica. "Estaremos entre a cruz e a caldeira. Mas é uma avaliação que tem de ser feita."
Barbosa diz ser importante fazer a revisão agora, quando a cobertura vacinal da população é alta. "Boa parte dos brasileiros está protegida. Podemos, em vez de fazer uma vacinação para todos, centralizar esforços naqueles com maior exposição."
Além das áreas de risco, o governo vai rever a indicação para as doses de reforço - hoje recomendadas a cada dez anos. A mudança no período de reforço, diz Barbosa, dependerá da conclusão de estudos em curso. "Dados preliminares apontam que o prazo para revacinação pode ser maior." Ainda não há data para mudança.
A febre amarela silvestre é transmitida pelo mosquito Haemagogus contaminado. Nas matas, macacos são o principal reservatório do vírus. O homem pode ser infectado quando ingressa em uma região de risco sem estar vacinado.
O clima quente favorece a proliferação dos criadouros. E, com o desmatamento, primatas muitas vezes são forçados a se aproximar das cidades. Essa é a justificativa para ampliar a área considerada de risco. "Critérios rigorosos foram adotados também pelo receio do retorno da febre amarela urbana", diz Barbosa. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.