Em meio à escassez de oxigênio em algumas regiões do país, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse na segunda (29) que pretende fazer uma campanha junto a profissionais de saúde para que haja uso "racional" do insumo em pacientes com Covid-19.
O ministro disse que convidou Carlos Carvalho, professor titular de cardiopneumologia da USP, para trabalhar com a pasta em protocolos assistenciais, entre eles o de racionalizar o oxigênio.
"Todos sabemos que muitas pessoas chegam aos hospitais e aí, às vezes, a primeira providência é colocar o oxigênio nasal em quem não precisa de oxigênio. Então, vamos tentar economizar. Vamos fazer uma grande campanha junto aos profissionais de saúde para o uso racional do oxigênio."
A declaração ocorreu em audiência no Senado, a primeira no Congresso desde que ele assumiu o cargo na última terça-feira (23), em cerimônia fechada e fora da agenda.
Segundo Queiroga, a pasta está trazendo 13 caminhões-tanque do Canadá -de ao menos 50 que seriam necessários- para ajudar no transporte de oxigênio entre estados. Também negocia com a indústria um aumento na fabricação de cilindros.
"O principal problema é levar o oxigênio até o destino. Esse oxigênio geralmente é levado em caminhões, caminhões-tanques. A capacidade do Brasil de caminhões não é elevada, é a capacidade que existe para suprir o mercado brasileiro em condições normais, não é a capacidade para suprir o Brasil numa condição pandêmica", disse.
O ministro também voltou a frisar a meta de vacinar 1 milhão de pessoas ainda no início de abril contra a Covid. Segundo ele, a previsão já está "prestes a ser atingida".
Ele admite, no entanto, que a pasta ainda terá dificuldades na distribuição das doses necessárias caso queira manter essa meta e acelerar de fato a vacinação contra a Covid.
"O Brasil já providenciou 535 milhões de doses de vacinas. Os maiores fornecedores são Butantan e Fiocruz, e além deles temos outras indústrias que já contratamos. Só que essas vacinas estão postas mais para o final do ano. Qual o nosso problema? Vacina para os três meses que se seguem para conseguirmos atingir a meta de vacinação ", disse, sem detalhar o cronograma.
O ministro disse ainda ter conversado com o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, para verificar a possibilidade de fazer uma "permuta" de doses com o país. Uma nova reunião, agora com o embaixador do país no Brasil, Todd Chapman, está prevista para esta terça (30).
"Há possibilidade de fazermos permuta para termos antecipação de doses seja do Covax Facility [consórcio da OMS] ou outras formas de vacinação", disse, citando que a negociação envolveria também uma possível compra extra de doses da Pfizer.
"Os americanos não vão liberar vacina antes de vacinar toda a sua população, mas eles aceitam fazer uma permuta, como nós já adquirimos com a Pfizer e vamos adquirir mais, vamos fazer uma permuta para ver se conseguimos uns 20 milhões de doses para que fortaleça o nosso programa de imunizações", completou.
Ao comentar as propostas de empresários para obter vacinas, Queiroga disse que a pasta "não vai colocar qualquer tipo de óbice para ampliar a vacinação".
O ministro afirmou que tem se encontrado com representantes da iniciativa privada para conversar sobre o assunto. O tema, no entanto, é alvo de polêmica entre especialistas, que temem que a medida dê privilégio a alguns setores.
"A iniciativa privada tem se apresentado, alguns querem doar tudo o que conseguir, alguns querem doar metade, e o restante vacinar seus trabalhadores. São posições legítimas, embora algumas precisam de ajustes regulatórios O Ministério da Saúde não vai colocar qualquer tipo de óbice para ampliar a vacinação", disse.
Na audiência, Queiroga disse ainda que tem feito conversas com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e membros da câmara de saúde suplementar do governo para avaliar, entre outros temas, a possibilidade de que planos forneçam cobertura a vacinas contra a Covid.
Ele também voltou a fazer um apelo para que a população use máscaras e afirmou que impôs que todos os servidores da pasta usassem a proteção.
"Nós estamos como estamos porque as medidas que deveriam ser colocadas em prática foram colocadas parcialmente. A gente não valoriza o uso de máscara, mas o uso de máscara tem quase que o efeito de vacinar a população brasileira."
Além disso, o ministro disse que outras medidas devem ser tomadas, como o distanciamento entre as pessoas. Ele defendeu ainda a necessidade de uma política em relação ao distanciamento no transporte público e o aumento na testagem da população.
Por outro lado, questionado sobre lockdown, medida apontada como fator que ajudou a reduzir mortes em Araraquara (SP), Queiroga defendeu que ações como essas sejam aplicadas apenas a nível local.
"Não se pode preconizar de maneira horizontal uma restrição mais severa, porque não traria benefícios e traria repercussão na economia", disse ele, segundo quem a pasta fará uma campanha para aumentar a adesão a outras medidas de prevenção, como uso de máscaras.
"Queremos intensificar outras medidas sanitárias feitas de maneira errática para que se evite chegar ao que está aí."