A Sputnik V, vacina desenvolvida pela Rússia para conter a Covid-19, vem ganhando território no mundo, apesar de ter tido pedidos de aval à importação excepcional no Brasil negados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A agência brasileira recusou, nesta segunda-feira (26), o pedido feito por um grupo de governadores para importar e aplicar o imunizante russo na população de Bahia, Acre, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Ceará, Sergipe, Pernambuco e Rondônia.
Segundo a Anvisa, a Sputnik V apresenta várias inconsistências técnicas no seu desenvolvimento que criam incertezas sobre a segurança da substância no combate ao coronavírus no organismo humano.
Um dia depois do parecer contrário da Anvisa, Kirill Dmitriev, diretor do fundo russo que financiou a Sputnik, chamou a agência brasileira de antiprofissional e mentirosa ao espalhar notícias falsas sobre o imunizante.
Dmitriev também afirmou que existe uma possível pressão política externa orquestrada pelos Estados Unidos para impedir a entrada da Sputnik em território brasileiro. "A intervenção externa é um dos elementos-chave desse comportamento [da Anvisa]", disse Dmitriev sem, no entanto, dizer nomes de autoridades ou laboratórios concorrentes que estariam nestas operações.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que o governo Trump pressionou o Brasil a recusar a vacina russa contra a Covid-19. A informação consta de um relatório publicado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos americano em 17 de janeiro, três dias antes da posse de Joe Biden.
"Isso faz parte da política. O que ela [Anvisa] vem pedindo de documentação para nós é bem maior e diferente do que ela pede para outros órgãos reguladores e produtores de vacinas", afirmou Dmitriev.
Apesar da negativa da agência reguladora brasileira, a vacina russa já obteve autorizações emergenciais para ser aplicada em 62 países, segundo balanço do governo da Rússia. Mas só em sua terra natal o imunizante obteve aprovação completa, dada em agosto de 2020.
Em comunicado divulgado nesta terça-feira (27), a Rússia informou que o ministério da Saúde de Bangladesh, país de 163 milhões de pessoas, havia autorizado o uso emergencial da Sputnik. Com a inclusão do país asiático, a vacina russa foi incluída no rol de imunizantes para fazer a cobertura vacinal de 3,2 bilhões de pessoas contra o coronavírus.
"A Sputnik V ocupa o segundo lugar entre as vacinas contra o coronavírus em todo o mundo em número de aprovações emitidas por agências reguladoras governamentais", afirmou, por nota, o governo russo.
A informação, porém, não consta no painel atualizado do jornal The New York Times que mostrava até o início da tarde desta terça que a Sputnik era aceita em 28 países e ficava atrás das vacinas de Oxford-AstraZeneca (135 países), Pfizer-BioNTech (89 países), Moderna (37 países) e Sinopharm (33 países).
Entre as nações que aceitaram a Sputnik está a Índia, considerada o celeiro da produção mundial de vacinas, cuja população supera a dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão juntos.
A maioria dos governos adeptos da Sputnik são da África, do Leste Europeu, do Sudeste Asiático e da América Latina, com México, Argentina, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Guatemala e Honduras na lista.
Além do Brasil, a Sputnik também não obteve autorização de uso nos Estados Unidos e nem pela EMA (Agência Europeia de Medicamentos, na sigla em inglês). Segundo a União Europeia, Hungria e Eslováquia permitiram o uso da Sputnik V de forma emergencial. Na Hungria, inclusive, a vacina já está sendo aplicada.
A negativa da Anvisa à importação da Sputnik V ocorreu em um contexto marcado por pressão e intenso lobby político pela aprovação da vacina russa. O pedido de liberação vinha sendo reforçado por membros da União Química –que tem uma parceria com a Rússia–, parlamentares e governadores, que alegavam que a Sputnik já era usada em mais países.
Esse é segundo pedido excepcional de importação de vacinas contra a Covid negado pela agência. Antes da Sputnik, a Anvisa negou pedido do Ministério da Saúde para a vacina Covaxin, da Índia, também alegando falta de dados mínimos.
A agência já aprovou outros cinco pedidos de uso emergencial ou registro de imunizantes contra a Covid. Estão na lista a Coronavac (Butantan e Sinovac), Covishield (produzida pela AstraZeneca por meio do Serum Institute, da Índia), Covishield (pela Fiocruz) e vacinas da Pfizer e da Janssen.
PAÍSES E TERRITÓRIOS QUE ACEITAM USO DA SPUTNIK V
1) Rússia
2) Belarus
3) Argentina
4) Bolívia
5) Sérvia
6) Argélia
7) Palestina
8) Venezuela
9) Paraguai
10) Turcomenistão
11) Hungria
12) Emirados Árabes Unidos
13) Irã
14) República da Guiné
15) Tunísia
16) Armênia
17) México
18) Nicarágua
19) Bósnia-Herzegovina
20) Líbano
21) Mianmar
22) Paquistão
23) Mongólia
24) Bahrein
25) Montenegro
26) São Vicente e Granadinas
27) Cazaquistão
28) Uzbequistão
29) Gabão
30) San Marino
31) Gana
32) Síria
33) Quirguistão
34) Guiana
35) Egito
36) Honduras
37) Guatemala
38) Moldova
39) Eslováquia
40) Angola
41) República do Congo
42) Djibouti
43) Sri Lanka
44) Laos
45) Iraque
46) Macedônia do Norte
47) Quênia
48) Marrocos
49) Jordânia
50) Namíbia
51) Azerbaijão
52) Filipinas
53) Camarões
54) Seychelles
55) Ilhas Maurício
56) Vietnã
57) Antígua e Barbuda
58) Mali
59) Panamá
60) Índia
61) Nepal
62) Bangladesh
Fonte: Governo russo