Após dez anos, o Paraná voltou a realizar cirurgias para reabilitação em pacientes com deformidades causadas pela hanseníase (lepra). Desde maio deste ano, 11 pessoas já passaram pelo procedimento. Nesta quarta (15) e quinta-feira (16) mais 50 pacientes passam por avaliação clínica com o médico ortopedista Elifaz Cabral, que atua em Rondônia pelo Ministério da Saúde e é referência nacional na área. O objetivo da avaliação é definir se há necessidade de cirurgia ou de tratamento fisioterapêutico. Toda a assistência é oferecida no Centro Hospitalar de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, em Curitiba.
Os pacientes que precisarem de cirurgia serão operados a partir do mês de outubro, durante mutirão coordenado por Elifaz Cabral, que servirá também para a formação de novas equipes especializadas. Hoje, apenas dois médicos cirurgiões do Centro de Reabilitação estão aptos a realizar o procedimento.
Uma equipe multidisciplinar, com médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, está à disposição dos pacientes. "O Paraná tem aqui uma estrutura de Primeiro Mundo e que dá totais condições para um atendimento adequado ao paciente", disse Elifaz Cabral.
De acordo com o cirurgião, o processo pré-operatório é tão importante quanto o procedimento cirúrgico. "Há casos em que a cirurgia é um sucesso, mas o paciente continua andando como se tivesse deformidade nos pés", disse. Por isso, o médico indicou sessões de fisioterapia para mudar o comportamento de alguns pacientes durante estes dois meses que antecedem a cirurgia.
É o caso de um morador de Palmas, região sul do Estado. Ele já está curado desde dezembro de 2011 e foi avaliado na manhã desta quarta-feira. Com pouca sensibilidade e deformidades nos pés, o paciente ainda sofre com as sequelas da doença. "Tenho dificuldades para andar e até queimei o pé em brasa sem sentir nada", conta. A partir de agora, o paciente passará por sessões de fisioterapia para que volte a andar normalmente após a cirurgia.
ESTRATÉGIA – "Com a formação de mais equipes, nosso objetivo é zerar a fila de espera pela cirurgia da hanseníase, o que levará mais qualidade de vida a essas pessoas que já sofreram com o preconceito", explicou o superintendente de Vigilância em Saúde, Sezifredo Paz. A Secretaria da Saúde estima que existam 150 pacientes curados da hanseníase, mas que ainda sofrem com as deformidades deixadas pela doença.
De acordo com Sezifredo Paz, além da reabilitação, a cirurgia cumpre um papel importante no resgate da autoestima do paciente. "Ele ganha mais autonomia, pois sua locomoção fica facilitada e em alguns casos pode até voltar a trabalhar", disse.
A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Hanseníase, Nivera Stremel, disse que a retomada das cirurgias fecha o ciclo de atendimento integral ao paciente com alta médica, mas que apresenta sequela. "Mesmo após o diagnóstico, o tratamento e a cura, ainda há a fase de reabilitação. Deformidades nos pés, por exemplo, podem se agravar com o passar do tempo e até causar mutilações. Por isso precisamos evitar a primeira úlcera", explicou.
Mesmo depois de encerrado o tratamento com medicamentos, o acompanhamento do paciente é mantido. A Secretaria da Saúde investe na implantação de grupos de autocuidado em todo o Paraná. Doze já estão estruturados na atenção primária e orientam os pacientes com hanseníase e diabetes sobre como prevenir ou tratar possíveis ferimentos.