Entre cinco laboratórios no mundo selecionados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e pela Fundação Bill & Melinda Gates, o Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi contemplado com um novo sistema para diagnosticar infecções gastrointestinais.
Capaz de detectar simultaneamente até 20 patógenos causadores de diarreias agudas, o equipamento também está em avaliação com pesquisadores dos Estados Unidos, Austrália, Índia e África do Sul.
"Atualmente, precisamos fazer uma análise individual das amostras para tentar identificar cada patógeno. Com este sistema, poderemos ter um método de diagnóstico mais rápido e eficiente no futuro", explica o pesquisador do laboratório e representante da América Latina no grupo técnico de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre rotavírus, José Paulo Gagliardi Leite.
Workshop
Para operar o novo sistema, um treinamento foi realizado no Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC nos dias 19, 20 e 21 de novembro.
O workshop foi ministrado por Darwin Operario, pesquisador da Universidade da Virgínia (EUA), e acompanhado por Michael Bowen, responsável pelo Laboratório de Referência Global para Rotavírus no CDC; Fatima Serhan, coordenadora de Laboratórios para Vigilância de Novas Vacinas da OMS; e Gloria Rey, conselheira regional para Laboratórios em Doenças Evitáveis por Vacinas da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Além de José Paulo, os profissionais Eduardo Volotão e Irene Trigueiros participaram do treinamento.
De acordo com José Paulo, o equipamento realiza a identificação molecular dos patógenos por meio da detecção de seu DNA ou RNA. Todo o processo, desde a extração do material genético até a caracterização dos micro-organismos, leva cerca de seis horas.
Uma vez que se trata de uma técnica nova, os testes estão ocorrendo nos laboratórios selecionados nos cinco países e têm o objetivo de verificar a precisão dos resultados. Segundo José Paulo, no Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, 330 amostras serão submetidas a análises na nova plataforma até julho de 2015, quando será realizada uma reunião com todos os envolvidos no projeto.
"A partir destes resultados será possível promover as correções necessárias e validar o novo sistema para que ele possa ser utilizado na rotina da vigilância de infecções provocadas por rotavírus, norovírus e outros patógenos causadores de diarreia aguda", afirma o pesquisador.
Mortalidade infantil
Identificar rapidamente os agentes causadores de infecções gastrointestinais é uma ação especialmente importante para reduzir a mortalidade infantil.
Segundo a OMS, as infecções por rotavírus ainda são a causa mais frequente de hospitalizações e mortes por diarreia aguda em crianças menores de cinco anos no mundo, mas este cenário vem sofrendo mudanças desde a introdução da vacina para a doença.
No Brasil, por exemplo, ela foi incluída no Programa Nacional de Imunizações em março de 2006. Desde então, bebês entre dois e seis meses recebem duas doses do imunizante e ficam protegidos contra a infecção grave.
Apenas nos três primeiros anos, a medida levou a uma redução de 22% nas mortes e de 17% nas internações provocadas por diarreia entre crianças menores de cinco anos. Os percentuais correspondem a cerca de 1,5 mil vidas salvas e 130 mil hospitalizações evitadas.