"Em praticamente todos os indicadores de saúde, a população negra tem desvantagem. Entre eles, mortalidade infantil, violência, mortalidade materna". A avaliação é do médico Rui Leandro da Silva, integrante do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde, que participou da audiência da Comissão de Seguridade Social que debateu o tema nesta semana na Câmara dos Deputados.
O panorama de desigualdade foi reforçado pelos dados apresentados pela secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) governo federal, Angela Maria de Lima Nascimento.
Segundo a secretária, 41,5% das mulheres negras com mais de 40 anos nunca fizeram mamografia - contra 26,7% das mulheres brancas com a mesma idade. A desigualdade se estende aos exames de colo de útero (18,4% das mulheres negras nunca fizeram, contra 13% das mulheres brancas) e de mama (32,7% das negras nunca fizeram, contra 19,3% das mulheres brancas).
Rui Leandro lembrou que 70% dos negros dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). O médico acrescentou que passados sete anos da aprovação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, apenas metade dos estados e seis capitais possuem comitês voltados à aplicação dessas ações. "É uma política que não depende só do Ministério da Saúde. Já houve avanço, obviamente que não é tudo aquilo que a população negra precisa e solicita. Tivemos vários avanços e temos estratégias, mas é necessário que isso também repercuta nos estados e municípios, onde realmente as ações acontecem", afirmou Rui Leandro.
Uma das autoras do pedido de audiência pública, a deputada Erika Kokay (PT-DF) assinalou que o SUS foi criado para dar igualdade de acesso à saúde a todos os brasileiros. "Quando falamos da população negra, só daremos equidade quando resolvermos as desigualdades históricas que essa população sofreu".
O deputado Amauri Teixeira (PT-BA) complementou que "não haverá igualdade na saúde no Brasil enquanto não dermos atenção a problemas específicos de populações específicas". Ele citou as comunidades quilombolas da Chapada Diamantina, cujos moradores sofrem com a doença falciforme, mas, que segundo Teixeira, não têm acesso a atendimento especializado.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-SP), essa realidade é fruto de um processo histórico de racismo, que ainda está institucionalizado no País. "Esse problema precisa ser tratado em várias políticas, não só na saúde", disse.