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Mulheres se tornam mais suscetíveis a doenças cardiovasculares, alerta Sociedade de Cardiologia

05 out 2020 às 08:37

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as brasileiras e já matam sete vezes mais que o câncer de mama, alerta a Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo). Se considerados todos os tipos de câncer, matam duas vezes mais.


De acordo com a cardiologista Lília Nigro Maia, diretora de qualidade assistencial da entidade, pesquisas feitas no Brasil e por entidades médicas nos EUA e em países da Europa embasam o alerta.


"Há 60 anos, morria uma mulher para cada nove homens por doenças cardiovasculares", diz. "A mulher mudou o comportamento. Está mais obesa, fumante e faz menos atividade física."


Os dados da Socesp mais recentes datam de 2018. Naquele ano, no estado de São Paulo, as doenças cardiovasculares mataram 46.175 homens e 41.536 mulheres.


No Brasil, o total de mortes por doenças cardiovasculares foi de 357.770, sendo 169.416 mulheres (47,3%). Considerando todos os tipos de cânceres, houve 227.920 mortes. Destas, 108.841 de mulheres (47,7%). Em relação ao câncer de mama, naquele ano houve 17.763 mortes -17.572 em mulheres.


Por isso, a entidade aproveita o mês de sensibilização para a prevenção ao câncer de mama, o Outubro Rosa, para lembrar o público feminino que, tão importante quanto fazer o autoexame nas mamas e os exames médicos preventivos, é não descuidar da saúde do coração. A Socesp lançou a campanha "Nós cuidamos do seu coração".


"O objetivo não é desvalorizar a campanha de prevenção ao câncer de mama, mas fazer um alerta: embora a preocupação com o câncer de mama seja muito válida, a doença cardiovascular é uma causa muito mais importante de morte", afirma Maia. Uma a cada cinco mulheres está sujeita a sofrer um infarto.


A médica acrescenta que, como os sintomas de infarto no homem e na mulher são diferentes, há uma subdiagnosticação no caso.


"As mulheres têm menos o quadro clássico. A dor é meio genérica, não é bem no peito. Muitas vezes, apresentam náuseas ou falta de ar e são rotuladas como estresse. Por isso, quando chegam ao hospital com dor no peito, a chance de receberem um tratamento adequado é menor. Por causa do quadro atípico, são subdiagnosticadas e subtratadas, o que colabora para mortalidade maior", explica Maia.


O estresse psicossocial está na lista das causas do infarto ao lado de problemas com colesterol, diabetes, obesidade abdominal, hipertensão e cigarro.


É possível prevenir 80% dos casos com medidas simples, como manter alimentação saudável -comer porções diárias de legumes, verduras e frutas- e praticar atividade física pelo menos 150 minutos por sema. Vale subir escadas, descer do ônibus um ponto antes ou depois, passear com cachorro e até pendurar roupas no varal.


"A consciência deveria começar na juventude, pois você vai colher os frutos dependendo do estilo de vida que levar. Se fumar, comer errado, ficar acima do peso e manter o descontrole do diabetes e da pressão arterial a chance de encurtar a vida é muito alta", diz a médica.


Um estudo da Socesp divulgado no ano passado em congressos médicos e publicações setoriais mostrou que apenas 30% das entrevistadas praticam atividade física regularmente. Foram ouvidos 93.605 pacientes de UBS (Unidades Básicas de Saúde) no estado de São Paulo, sendo 62.203 mulheres e 31.402 homens.


Como o foco da pesquisa foi a mulher, os homens entraram no estudo para avaliar o acesso ao sistema de saúde, sua utilização, hábitos de vida, prevalência de fatores de risco, níveis de estresse e risco cardiovascular de um evento futuro ocorrer nos próximos dez anos.


Alimentação balanceada, com ingestão diária de frutas, legumes e verduras reduz em 30% o risco de infarto, de acordo com a mesma pesquisa. Das entrevistadas, 58,8% consumiam esses alimentos diariamente.


"Algumas ligações do câncer com um padrão de vida desaconselhável hoje, como alimentação errada, vícios e hábitos que iniciam cada vez mais cedo e uso de manipulação hormonal é cada vez mais frequente na sociedade", afirma Artur Malzyner, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e membro da American Society of Clinical Oncology, European Society for Medical Oncology e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.


Malzyner afirma que os casos da doença aumentaram muito nos últimos anos, atingindo faixas etárias mais jovens. "É importante que o diagnóstico seja feito precocemente e que sejam usadas as evidências disponíveis na prevenção primária do câncer de mama, numa busca por reduzir o risco de agravamento da doença e morte."


O autoexame é importante, mas não deve substituir os exames de imagem para detecção da doença, como a ultrassonografia e principalmente a mamografia.


"A mamografia detecta tumores de mama muito menores do que uma mulher consegue. Queremos enfatizar menos os aspectos relacionados com os sintomas e enfatizar mais a preocupação de nós, médicos, com a mulher para que realize a mamografia", alerta Malzyner.


"O diagnóstico por imagem é a maneira mais adequada de detectar precocemente a doença e salvar vidas. O diagnóstico da doença já presente percebida pela mulher ou seu companheiro geralmente traz a informação de que a doença está avançada e com menor chance de cura."


Há um consenso entre a classe médica de que a mamografia deve ser feita precocemente por quem tem predisposição familiar reconhecida entre 40 e 45 anos.


Dos 45 aos 50 anos, a recomendação é realizar o exame duas vezes ao ano, porque nesta faixa o tumor pode ser mais agressivo. Após os 50, a paciente pode realizar o exame anualmente -o mesmo vale para a ultrassonografia.


A estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de 66.280 novos casos de câncer de mama em 2020, com quase 18 mil mortes.


Infarto e as mulheres


Sintomas clássicos
Dor no meio do peito, geralmente intensa (5% a 10% não sentem dor), que irradia pelo braço esquerdo, pescoço e mandíbula
Náuseas
Vômitos
Falta de ar
Cerca de 40% apresenta sudorese


Nas mulheres há diferença nos sintomas


Náuseas
Vômitos
Dor no peito mais generalizada
Dores gástricas
Mais de 64% nunca apresentaram sintomas


Principais causas de infarto

Colesterol
Tabagismo
Diabetes
Hipertensão
Obesidade abdominal (mais comum em homens)
Estresse psicossocial, que inclui:
reação perante aos fatos da vida (sentimentos como ansiedade e ira, por exemplo)
condições de vida: problemas no trabalho, familiares e preocupações financeiras (dívidas)
Cuidar de pessoa doente
Prevenção dos fatores reduz em 80% o risco de infarto


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