Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) aponta que mulheres que têm vitiligo, uma doença que causa a perda gradativa da pigmentação da pele, apresentam mais chances de ter uma baixa autoestima, um significativo sofrimento emocional e maiores possibilidades de sofrer de depressão.
O vitiligo provoca o surgimento de manchas em todo o corpo e pode afetar pessoas de todos os tipos de pele. Embora a doença seja uma queixa frequente nos consultórios médicos (em alguns países a incidência chega a ser de 8% na população), existe uma lacuna de conhecimento nessa área. Sabe-se que o vitiligo não é uma doença contagiosa, não produz impactos fisiológico que cause danos severos à saúde física e nem representa um risco para a vida de quem a possui, porém seus impactos produzidos nas dimensões psicológicas e afetivas indicam a importância de se avaliar e intervir no cuidado desta doença.
A mestranda Larissa Ruiz, aluna do PPGPsi e responsável pelo estudo desenvolvido na UFSCar, sob orientação da professora Maria de Jesus Dutra dos Reis, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da Universidade, conta que sua pesquisa teve como objetivos examinar a ocorrência de indicadores de morbidade psiquiátricas em pacientes com vitiligo, identificar a intensidade do incômodo atribuído para a presença de manchas em diferentes regiões corporais, correlacionar o incômodo atribuído com a localização da mancha, autoestima, comorbidades psiquiátricas em geral e, em particular, com a depressão, além de avaliar indicadores socioeconômicos e de saúde em mulheres portadora de vitiligo, desde idade e renda até quanto tempo convive com a doença e quais tratamentos já realizou.
Para isso, a pesquisadora convidou, por meio da Internet, portadoras de vitiligo de todas as regiões do Brasil para participarem da pesquisa. Ao todo, 117 mulheres adultas com diagnóstico de vitiligo participaram do estudo, indicando em quais regiões do corpo apresentava manchas decorrentes de vitiligo e o quanto essas manchas incomodavam.
Larissa dividiu o corpo humano em três áreas, sendo a primeira referente as partes do corpo que têm alta exposição social, como a cabeça e as mãos, a segunda referente a média exposição social, e a terceira a baixa exposição. Dessa maneira, a mestranda verificou que os maiores indicadores de incômodo com as manchas foram identificados na primeira área, cuja média de incômodo foi, aproximadamente, três vezes maior do que nas outras regiões.
A pesquisadora também aplicou instrumentos de saúde mental para correlacionar problemas de autoestima, depressão e outros transtornos psicológicos ao incômodo. Os resultados do estudo indicaram que quanto maior o incômodo relatado, maiores foram os indicadores de transtornos mentais diversos e de depressão grave e menores os resultados relacionados a autoestima.
Os dados levantados por Larissa mostram também que todas as participantes com baixa autoestima mostraram necessidade de cuidado em depressão, e quase 90% destas apresentaram seis ou mais domínios de saúde mental alterados, como por exemplo ansiedade, depressão, manias, raiva, problemas de sono, dentre outros, e que necessitam de mais cuidado.
Segundo Larissa Ruiz, o constrangimento relatado pelas portadoras do vitiligo pode estar relacionado à frequente associação entre doença de pele, o medo de contágio (que não existe) e atribuição de pouca higiene pessoal, conduzindo a um processo de estigmatização que pode levar alguns indivíduos a se afastarem dos pacientes com esse problema. A pesquisadora acredita que o tratamento deva acontecer em conjunto, entre os pacientes e toda a sociedade. "Os portadores precisam de apoio, o impacto psicológico do vitiligo não pode ser negligenciado, bem como a sociedade precisa ser educada a respeito da doença, diminuindo assim o preconceito associado à falta de informação", afirma a pesquisadora.
A partir dos dados coletados, a mestranda em Psicologia ainda desenvolve análises para verificar se há diferença em relação ao estado civil dessas mulheres e a localização das manchas, o tempo de convívio com a doença, entre outras correlações com dados sociodemográficos levantados pela pesquisa. A pesquisadora também trabalha na construção de um projeto de intervenção psico-cosmética.
"Agora, munida de dados mais precisos e voltados para realidade das mulheres brasileiras, estou construindo e programando uma intervenção que venha de encontro às dificuldades e necessidades específicas dessa população. Em São Carlos há planos de formação de um grupo que receba a população da cidade e região, a fim de oferecer atendimento dermatológico e psicoterapêutico. Alguns planos futuros são de implementar cartilhas e estimular campanhas", conclui Larissa.