A prescrição de substâncias à base de cannabis para o tratamento de diferentes tipos de patologias está cada vez mais difundida em todo o Brasil. De acordo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), apenas em 2021, 40 mil pacientes foram autorizados a importar medicamentos derivados da maconha no país, número que já chega ao total de 71 mil pessoas, em quatro anos.
A planta da cannabis tem diferentes princípios ativos medicinais, como flavonóides, terpenos e os fitocanabinoides, que são mais conhecidos e têm mais destaque nos estudos médicos; existem mais de 50 tipos com efeitos terapêuticos. Entre eles estão o CBD (canabidiol), THC (tetrahidrocanabinol), CBG (cannabigerol) e CBN (canabinol) que atuam em nosso organismo através do sistema endocanabinóide, conforme explica o Dr. Vitor Jorge Brasil, especialista em medicina preventiva do Eco Medical Center, em Curitiba.
“Podemos dizer que esse sistema é uma rede, que envolve os sinais químicos dos receptores celulares espalhados por todo nosso organismo. O corpo produz substâncias canabinóides e as enzimas que as degradam, quando necessário. Esse sistema reflete em tudo: humor, apetite, sono, percepção de dor e até na imunidade, o uso de medicamentos derivados da cannabis ajuda a regular esse sistema e, consequentemente, traz melhorias em diferentes aspectos. Fazendo uma analogia com uma orquestra, podemos dizer que o sistema endocanabinóide é o maestro do nosso corpo”, explica.
O neurocirurgião Guerino Salmazo Neto, também do Eco Medical Center, ressalta que todas as células do nosso organismo possuem receptores canabinóides. “Principalmente as do sistema nervoso (Receptores CB1) e do sistema imunológico (Receptores CB2). Estes receptores são ativados fisiologicamente principalmente pela substância Anandamida, produzida naturalmente pelo Sistema Nervoso Central, em maiores níveis durante o sono. Denominado Sistema Endocanabinóide, e é responsável por colaborar com o bom funcionamento geral dos órgãos e sistemas, especialmente no que se refere a imunomodulação, neurofisiologia e fisiologia gastrointestinal”, esclarede o médico.
Entre os efeitos terapêuticos conhecidos pela ciência estão o antiepilético, analgésico, antidepressivo, anti-inflamatório, além do controle de enjoo e da ansiedade. Existem estudos em andamento sobre a eficácia da cannabis no tratamento contra o câncer, mas ainda em fases muito iniciais.
O Dr. Vitor Brasil explica que os pacientes oncológicos são beneficiados pela cannabis na redução dos efeitos colaterais do tratamento. “Quem faz quimioterapia, por exemplo, pode conseguir melhorar o apetite e reduzir os quadros de enjoos causados pelo medicamento”.