Continuar a usar máscaras por algum tempo, mesmo depois que sejam atingidos patamares elevados de vacinação contra a Covid-19, é uma medida que ajudaria a salvar dezenas de milhares de vidas e evitar centenas de milhares de internações, afirma um novo estudo feito nos EUA.
Os cálculos foram feitos com base na população americana, mas poderiam ser aplicados a muitos outros países, escrevem os autores da pesquisa, que acaba de sair no periódico especializado Lancet Public Health.
"Nossos achados enfatizam a ideia de que a vacinação, sozinha, não é suficiente para controlar a pandemia, e que medidas de proteção que funcionem como diferentes camadas sobrepostas são necessárias para limitar impactos econômicos e mortes", disse o autor principal do estudo, Bruce Y. Lee, da Universidade da Cidade de Nova York, em comunicado oficial.
Ao mesmo tempo, "é como se fosse uma luz no fim do túnel", afirma Peter Hotez, especialista em medicina tropical e desenvolvimento de vacinas da Faculdade de Medicina Baylor, no Texas.
"Nosso trabalho sugere que o uso de máscaras não precisa continuar para sempre, mas indica que ele ainda é uma ferramenta importante para diminuir o espalhamento da Covid-19 conforme entramos na próxima fase da pandemia."
A pesquisa publicada por Lee, Hotez e outros colegas é uma modelagem matemática da interação entre os diferentes fatores que influenciam a transmissão da doença hoje, como a susceptibilidade das pessoas ao vírus, a porcentagem da população já vacinada, a eficácia das vacinas, o uso de máscaras e a eficácia delas (que varia consideravelmente entre os modelos de tecido, os cirúrgicos e as chamadas PFF2, mais recomendadas).
A equipe também levou em consideração os custos de cada parâmetro para a população e para o poder público, bem como diferentes metas de vacinação, entre 70% e 90% dos habitantes vacinados até o meio de 2022.
Em todos os cenários simulados, os modelos indicam que vale a pena manter o uso de máscaras entre duas e dez semanas depois que a meta de vacinação seja atingida. Quanto mais tempo for necessário para chegar a esse objetivo, mais positivo é o impacto do emprego de máscaras.
Se, por exemplo, os EUA tiverem vacinado 80% de sua população em 1º de julho de 2022, o uso continuado da proteção facial até lá poderá salvar 23,2 mil vidas.
Num ritmo mais acelerado e cobertura vacinal maior (1º de maio e 90% da população vacinada), ainda assim as máscaras evitariam 136,7 mil hospitalizações e 16 mil mortes. Do ponto de vista econômico, a proteção facial ajudaria a economizar investimentos em saúde mesmo que custasse o equivalente a R$ 6,50 por dia por pessoa.
Os cálculos também indicam que os efeitos positivos das máscaras são ainda mais claros justamente nos cenários que o mundo enfrentou nos últimos meses: o aparecimento de variantes do coronavírus mais transmissíveis (caso da delta e da ômicron), contra as quais as vacinas já não possuem a eficácia original (esse é claramente o caso da ômicron).
O mesmo vale para situações nas quais a imunidade vacinal ou natural (produzida quando as pessoas se recuperam da infecção pelo vírus) diminui com o passar do tempo, um fator já sabidamente importante no caso da Covid-19.
A publicação dos achados acontece no momento em que diferentes regiões dos EUA têm passado pela flexibilização ou pelo fim do uso das máscaras, mesmo em ambientes fechados, processo que está começando a se acelerar no Brasil. O Rio de Janeiro, por exemplo, aboliu a obrigatoriedade do uso de proteção facial em todos os ambientes.
Os cálculos feitos pelos pesquisadores indicam que, em muitas regiões do país, esse tipo de medida ainda é prematura em ambientes fechados, os mais perigosos no que diz respeito à facilidade de transmissão da doença.