Ao contrário dos humanos e dos grandes símios, os macacos rhesus não se dão conta, quando olham em um espelho, de que estão vendo sua própria imagem. Mas, de acordo com um artigo publicado nesta quinta-feira (8) na revista Current Biology, eles podem ser ensinados a se reconhecer no reflexo.
Mais do que isso, uma vez que os macacos rhesus estudados desenvolvem tal capacidade, eles continuam a usar o espelho espontaneamente para explorar partes de seus corpos que normalmente não conseguiam enxergar.
A descoberta, de acordo com os autores do estudo, ajuda a compreender as bases neurais do autoconhecimento em humanos e em outros animais.
"Nosso achado sugere que o cérebro do macaco possui o 'hardware' básico para o autorreconhecimento em um espelho. Mas, para usar essa capacidade, eles precisam ser treinados de forma apropriada para adquirir o 'software' necessário", disse um dos autores, Neng Gong, da Academia Chinesa de Ciências.
Em estudos anteriores, os cientistas ofereceram aos macacos espelhos de diferentes tamanhos e formatos, ao longo de vários anos, desde a primeira juventude. Embora os macacos pudessem aprender a usar os espelhos como ferramentas para observar outros objetos, eles nunca mostravam nenhum sinal de autorreconhecimento.
Quando os pesquisadores faziam marcas nos rostos dos macacos e mostravam sua imagem no espelho, eles não tocavam ou examinavam a mancha, nem mostravam qualquer outro comportamento autodirigido diante do reflexo, como fazem os humanos, mesmo quando muito jovens.
No novo estudo, Gong e sua equipe colocaram os macacos sentados diante de um espelho e iluminaram seus rostos com um feixe de laser ligeiramente irritante. Com esse treinamento, depois de duas a cinco semanas, os macacos haviam aprendido a tocar, diante do espelho, áreas do rosto marcadas com uma mancha que eles não podiam sentir. Eles também passaram a notar marcas virtuais em imagens de vídeo espelhadas em uma tela.
Os animais, de acordo com os cientistas, haviam adquirido a capacidade de passar no teste-padrão de autorreconhecimento em espelhos.
A maior parte dos macacos treinados - cinco de um grupo de sete - mostrou comportamentos autodirigidos tipicamente induzidos por espelhos, como tocar a marca no rosto ou na orelha e depois olhar ou cheirar os dedos. Eles também começaram a usar os espelhos de maneiras inesperadas para os cientistas, como inspecionar e explorar outras partes do corpo.
Segundo os cientistas, a descoberta é uma boa notícia para as pessoas que não são capazes de se reconhecer em espelhos por causa de distúrbios cerebrais, autismo, esquizofrenia ou doença de Alzheimer.
"Embora o comprometimento do autorreconhecimento em pacientes implique a existência de déficits cognitivos ou neurológicos em mecanismos cerebrais de autoprocessamento, a nossa descoberta levantou a hipótese de que esses déficits poderiam ser sanados por meio de treinamento", disse o artigo. "Mesmo uma restauração parcial da capacidade de autorreconhecimento já seria desejável."