Camile Stefano, 41, passou a adolescência e vida adulta tentando emagrecer. Aos 18 anos, fez uma cirurgia de lipoaspiração nas pernas, mas o procedimento também não resolveu seu problema. Há pouco mais de um ano finalmente recebeu um diagnóstico: lipedema.
A condição, caracterizada por um acúmulo incomum de gordura nas pernas, braços ou quadris, afeta principalmente mulheres adultas e foi reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2022.
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Porém, segundo a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), a condição foi descrita pela primeira vez na década de 1940 e não é rara ou recente. Calcula-se que afeta cerca de 10% das mulheres brasileiras.
A condição de Camile, contudo, foi repetidamente associada à obesidade por profissionais da saúde. "A gente começa a acreditar que é coisa da nossa cabeça", diz ela.
Desde o início da adolescência, a consultora de imagem sofre com incômodo nas pernas, dores e insatisfação com o próprio corpo. "Eu emagreci bastante, mas só da cintura pra cima. Isso só destacou mais a desproporção do meu corpo."
Apesar de ser caracterizado pelo acúmulo de gordura, a condição se difere da obesidade em diversos aspectos. As doenças podem ocorrer simultaneamente, mas não necessariamente estão relacionadas.
No caso do lipedema, ocorre inflamação e acúmulo de gordura subcutânea, ou seja, nas camadas inferiores da pele. A única maneira de remover o excesso é por meio da cirurgia, mas algumas intervenções clínicas podem ajudar a melhorar os sintomas, como dores e inflamações.
Trata-se uma doença crônica e, por isso, não há cura. Contudo, a fisioterapeuta Jaqueline Baiochi, especialista no tratamento da condição, afirma que intervenções cirúrgicas costumam ser bem-sucedidas pois a reincidência é incomum. Para isso, é preciso manter o tratamento com dieta e atividades físicas.
"O lipedema não tratado tem um caráter progressivo", indica Baiochi. Cada vez que os gatilhos inflamatórios, como alimentação, são ativados, a doença pode ser intensificada. Na ausência de tratamento, as principais consequências são prejuízos vasculares e comprometimento da coluna e articulações.
Para Baiochi, o desconhecimento dos profissionais da saúde e da população sobre a doença é o que leva à dificuldade de diagnóstico.
O cirurgião plástico Fernando Amato, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, reforça que a doença não é recente ou incomun, mas há defasagem na identificação pois muitos profissionais não a veem como um diagnóstico à parte. "A obesidade é um fator de risco, mas são duas coisas diferentes", diz.
Além da aparência, alguns dos sintomas são inchaço, manchas roxas e vermelhas na pele, dor e sensibilidade ao toque. De acordo com o especialista, o tratamento cirúrgico mais comum é a lipoaspiração tumescente, mas também é importante manter o acompanhamento clínico.
Ele indica que a doença também acomete homens, mas afeta principalmente as mulheres. Isso ocorre porque está associada ao estrogênio, um hormônio feminino.
Iris Ramadas, 35, começou a sentir os sintomas pouco após sua primeira menstruação. "A vida inteira eu tive uma luta com a balança. Comecei a engordar com uns 11 ou 12 anos", diz. Poucos anos depois, começou a fazer dietas com acompanhamento nutricional.
"Busquei um médico e fiz uma lipo, mas meu corpo não melhorou", afirma. Ao longo da vida, Iris viveu algumas alterações no peso, mas sempre que emagrecia, não conseguia reduzir as medidas das pernas e dos quadris. "Cada vez que eu engordava e emagrecia as minhas pernas pioravam, a diferença ficava maior. Era uma coisa notável para todo mundo, essa desproporção do meu corpo."
Após buscar uma série de tratamentos para emagrecimento, celulite e outros procedimentos estéticos, Iris só suspeitou da doença quando pesquisou sobre o assunto.
Em 2022, teve sua condição confirmada por um especialista e foi encaminhada para a cirurgia em setembro. "Depois do diagnóstico, eu percebi que eu já fazia o tratamento conservador, mesmo sem saber. Por isso eu acabei fazendo a cirurgia bem rápido."
Iris segue com o acompanhamento clínico e se programa para fazer uma segunda cirurgia, dessa vez nos braços, mas considera que a primeira intervenção trouxe melhora não apenas melhora estética, mas também funcional.
"Não é uma perna perfeita, mas é uma perna normal. Não parece mais que eu sou uma pessoa do tronco pra cima e outra do tronco pra baixo", diz.