O presidente Joe Biden anunciou nesta segunda-feira (17) que os Estados Unidos vão compartilhar com outros países mais 20 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 até o fim de junho.
O número se soma aos 60 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca que a Casa Branca já havia se comprometido a distribuir, totalizando 80 milhões de doses enviadas pelos americanos ao exterior.
Em pronunciamento, Biden não detalhou quais nações receberão as vacinas –o Brasil tenta, desde março, conseguir excedentes de doses dos americanos–, mas disse que o montante distribuído representa 13% de todos os imunizantes produzidos nos EUA até o mês que vem.
"Hoje estamos dando mais um passo para ajudar o mundo. Sabemos que os EUA nunca estarão totalmente seguros enquanto esta pandemia se alastrar globalmente", disse o presidente. "Até o final de junho, quando teremos recebido vacinas em quantidade suficiente para proteger a todos nos EUA, vamos compartilhar pelo menos 20 milhões dessas doses extras com outros países. Isso significa que, nas próximas seis semanas, os EUA enviarão 80 milhões de doses para o exterior."
O governo americano comprou vacinas para imunizar três vezes toda a população de 330 milhões de pessoas e já aplicou ao menos uma dose em 60% dos adultos do país –ou em 47% do total de residentes.
Com a compra antecipada, a Casa Branca pode decidir o que fazer com as doses, que são de posse do governo federal.
Em sua fala de cerca de 15 minutos, Biden disse que iria trabalhar com o consórcio Covax Facility, iniciativa vinculada à OMS (Organização Mundial da Saúde), e outros parceiros para tentar garantir uma distribuição igualitária a quem precisa, mas não enumerou quais países poderão receber as doses.
"Não usaremos nossas vacinas para garantir favores de outros países. Trabalharemos com a Covax e outros parceiros para assegurar que as vacinas sejam distribuídas de forma equitativa e de acordo com a ciência e com os dados de saúde pública."
Segundo auxiliares do presidente, a força-tarefa da Casa Branca para a pandemia e o Conselho de Segurança Nacional debaterão o destino das doações, junto ao Departamento de Estado.
Sob pressão internacional para compartilhar doses com países pobres e em desenvolvimento, Biden ressaltou que a medida era a coisa "certa e mais inteligente" a fazer, inclusive diante da guerra da diplomacia da vacina que opõe as principais potências.
"De repente, compartilhamos mais vacinas do que qualquer outro país até hoje. Cinco vezes mais do que a Rússia e a China, que doaram 15 milhões de doses até agora. Muito se fala da influência da Rússia e da China no mundo das vacinas. Queremos liderar o mundo com nossos valores."
Biden e diversos governadores têm estimulado a vacinação no país, inclusive entre turistas que visitam os EUA, já que hoje a quantidade de vacina oferecida é maior que a procura em vários lugares.
O presidente disse que nesta segunda, pela primeira vez desde o início da pandemia, o número de casos de Covid-19 caía em todos os 50 estados americanos, mas pediu que a população não baixe a guarda.
Biden explicou que os novos 20 milhões de doses compartilhadas serão provenientes das levas das três vacinas que já foram aprovadas para uso nos EUA: Moderna, Pfizer e Johnson & Johnson –as duas primeiras necessitam de duas doses para eficácia completa, a última, de apenas uma.
Já as doses da AstraZeneca devem receber o aval da FDA, agência americana que regulamenta medicamentos, antes de serem enviadas para o exterior.
As três vacinas aprovadas nos EUA são produzidas no próprio país, e o governo Biden invocou a Lei de Produção de Defesa, da época da Guerra da Coreia (1950-1953), para dar às empresas acesso aos suprimentos necessários para fabricar e embalar vacinas, acelerando ainda mais o processo.
A legislação permite que o presidente fortaleça a produção de empresas privadas para bens considerados estratégicos, como a vacina, e já havia sido utilizada diversas vezes por Donald Trump.
Os EUA haviam doado em março 4 milhões de doses da AstraZeneca para México e Canadá, mas o número destinado aos dois países vizinhos foi considerado simbólico. Depois disso, no fim de abril, houve o anúncio do compartilhamento das 60 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca que estavam parados nos estoques, sem autorização de uso concedida pela FDA.
Agora, com a aceleração da imunização no país e a promessa de volta ao normal em julho, Biden quer dar um passo ruma à liderança da diplomacia da vacina, espaço que, até agora, estava sendo ocupado pelos seus principais rivais geopolíticos, China e Rússia.