Extensos períodos de privação de descanso podem aumentar o risco de problemas no coração, assim como distúrbios mentais ou queixas relacionadas à dor. O sono é essencial à saúde porque repara, regenera e revigora o organismo. Os estudos sobre a relação entre o sono e as manifestações dolorosas se intensificaram e confirmam a associação entre ambos. Indivíduos com dor crônica, por exemplo, também são suscetíveis a sérios problemas com o sono.
Os distúrbios são, de modo geral, dificuldades para dormir. A insônia e a fadiga são as queixas mais comuns, porém mais de 100 outros transtornos já foram identificados. Dentre suas categorias principais, estão os problemas para conseguir manter uma rotina regular de descanso e os comportamentos incomuns durante o sono. Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), aproximadamente 50% dos pacientes com dor crônica relatam algum problema de sono, como dificuldades para dormir e para despertar intimamente associadas com a gravidade da dor.
"Pacientes que sofrem com quadros de dor crônica apresentam fragmentação do sono, ou seja, não conseguem dormir por um longo tempo, condição que pode agravar o quadro de dor", explica Fernando Vasilceac, docente do Departamento de Gerontologia (DGero) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Trata-se de uma relação recíproca, pois a dor interfere na qualidade do sono e, por sua vez, o sono interrompido perpetua os sintomas da dor.
Evidências apontam que o sono profundo pode compensar os processos dolorosos crônicos, de modo que pacientes com maior quantidade de horas dormidas provavelmente experimentam os sintomas com menor intensidade. Embora haja claramente uma forte relação entre dor e sono, ainda não são claros os motivos que a expliquem. "A relação de sono e dor é bidirecional e muitos estudos ainda precisam ser desenvolvidos", relata o docente da UFSCar.
Além do mais, tanto a dor crônica quanto os distúrbios do sono compartilham uma série de problemas de saúde física e mental, como a obesidade, o diabetes tipo 2 e a depressão. Segundo professor, uma visão interdisciplinar é fundamental para a melhor compreensão dos diagnósticos.
Buscando capacitar profissionais a lidarem com a dor, não apenas as causadas por distúrbios do sono, mas qualquer tipo de sensação dolorosa, a UFSCar lançou uma pós-graduação inovadora – o Curso de Especialização Interdisciplinar em Dor. É a primeira vez que um curso é oferecido neste sentido, abordando a dor em todas as atividades propostas e não apenas em uma única disciplina.
A especialização aborda a dor desde a ciência laboratorial, passando pelo diagnóstico clínico, gestão até a prevenção. São discutidas suas causas, natureza, sintomas e formas de propagação, além de seu desenvolvimento e meios de tratamento. Docentes e pesquisadores renomados de diversas instituições – UFSCar, USP, Unesp, Unicamp, dentre outras – apresentam as principais síndromes dolorosas e seus tratamentos cirúrgicos, farmacológicos, não-farmacológicos e cuidados paliativos; a grade curricular, dividida em dez módulos, tem carga horária de 368 horas totais.
As aulas são presenciais e acontecem a cada três semanas, aos sábados e domingos, no Campus São Carlos da UFSCar, das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas. O início está previsto para o dia 18 março. Os interessados podem se inscrever por meio do site www.especializacaodor.faiufscar.com. As vagas são limitadas. Mais informações pelo e-mail dor.ufscar@gmail.com ou no Facebook, em www.facebook.com/dor.ufscar.