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Edição no DNA desperta esperança e preocupação na comunidade científica

01 dez 2015 às 15:18

As técnicas de "edição" do genoma, que permitem modificar de maneira precisa o DNA, alimentam várias esperanças mas também trazem preocupação para parte da comunidade científica que pede prudência no que diz respeito a sua aplicação nas células reprodutoras e embriões humanos.

A norte-americana Jennifer Doudna, que recebeu diversos prêmios por seu trabalho - realizado em parceria com a francesa Emmanuelle Charpentier - sobre uma promissora técnica chamada "CRISPR-Cas9", soou o alarme nesta segunda-feira ressaltando "a urgência de discussões ética" sobre este aspecto.


Em artigo publicado na revista Nature, a bióloga solicita o estabelecimento de uma série de salvaguardas para "andar com prudência" nesta área, às vésperas de uma conferência internacional em Washington sobre a aplicação no homem das técnicas de edição do genoma.



Desenvolvida desde 2012, a CRISPR-Cas9 é uma ferramenta que permite corrigir o DNA defeituoso, "um pouco como um editor de texto pode permitir editar ou corrigir a tipografia de um documento", afirmou a bióloga Emmanuelle Charpentier em entrevista à AFP.


"É como um canivete suíço que corta o DNA em um local específico e pode ser usado para introduzir uma série de alterações no genoma de uma célula ou organismo", disse a bióloga que trabalha no Instituto Max Planck, em Berlim.


Esta técnica é aplicável tanto em plantas quanto em animais e homens. Mas "uma das suas potenciais aplicações mais importantes será a de permitir novas abordagens terapêuticas para algumas doenças genéticas humanas", explicou a pesquisadora, co-fundadora da empresa CRISPR Therapeutics.


Os cientistas já tinham ferramentas de engenharia genética, mas a CRISPR-cas9 é "mais precisa, mais eficiente, mais flexível", o que explica seu sucesso entre os pesquisadores.
A tecnologia também é bastante barata, permitindo que os laboratórios com meios limitados possam acessá-la, apontou a cientista.


- Melhorar a segurança -
Mas as preocupações surgiram após o anúncio em abril de que uma equipe chinesa havia mudado um gene defeituoso em vários embriões humanos (não-viáveis​​) usando esta técnica.
Em outubro, o Comitê Internacional de Bioética da Unesco pediu uma moratória sobre técnicas de edição de DNA de células reprodutivas humanas para impedir a modificação "antiética" de características hereditárias dos indivíduos, que poderiam dar impulso à eugenia - ideologia que prega "melhoria da espécie".


A tecnologia CRISPR-cas9 "pode tornar mais fácil" a habilidade de modificar o DNA humano, por exemplo, para "determinar a cor dos olhos dos bebês", para alguns pesquisadores que trabalham em embriões, óvulos ou esperma, de acordo com o comitê.


Para Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia em Berkeley, uma "proibição completa" não é a solução já que "isso poderia impedir pesquisas suscetíveis de resultarem em novas terapias". E tal restrição "seria inviável dada a grande acessibilidade e facilidade de utilização da CRISPR-Cas9".


Doudna deseja que as políticas e os cientistas determinem "diretrizes" que permitam ter mais clareza "sobre o que é ou não aceitável em termos éticos".

George Church, geneticista de Harvard (Estados Unidos), espera que os debates da conferência de Washington não fiquem centrados na questão de uma eventual proibição destas técnicas de edição do DNA já que elas são aplicadas às células reprodutoras humanas.
"Nós deveríamos discutir os meios para melhorar sua segurança e sua eficácia", escreveu Church na Nature.


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