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Droga mistura anti-HIV, veneno e detergente

28 fev 2011 às 09:34

Um novo coquetel que mistura medicamentos anti-Aids com detergente e veneno de rato está ameaçando a saúde de portadores do vírus HIV na comunidade sul-africana de Umlazi, na província de KwaZulu-Natal.

Pacientes cujas vidas dependem do antirretroviral Stocrin para conter o avanço do vírus se tornaram vítimas frequentes de gangues de ladrões que procuram matérias-primas para a fabricação da chamada "whoonga", uma droga recreacional.


A mistura de substâncias químicas, altamente tóxica e viciante, tem como um dos ingredientes as pílulas antirretrovirais, que são misturadas a outras substâncias e adicionadas a cigarros de maconha.


Os traficantes crêem que a droga anti-HIV potencializa os efeitos alucinógenos da marijuana - embora não haja provas científicas de tal efeito.


"Por um lado, estamos em uma batalha para permanecer vivos. Agora, temos de nos cuidar contra vândalos que querem roubar a nossa única chance de vida - porque é isso que eles estão levando quando roubam o nosso medicamento", resume Phumzile Sibiya, que toma o antirretroviral há seis meses.


Por causa do risco de roubos, em vez de levar os medicamentos para casa, ela agora visita a clínica em grupo para tomar a pílula.


"Simplesmente não me sinto segura para coletar as pílulas. Nunca se sabe o que pode acontecer. É muito doloroso", diz Sibiya, enquanto espera na fila de uma clínica ao sul da cidade de Durban.


O chefe de polícia da África do Sul, Bheki Cele, descreveu o coquetel como "um grande problema nacional" e disse que a sua contribuição para os números do crime está sendo investigada pela força de elite sul-africana, os Hawks.


Crise de abstinência


A clínica de Ithembalabantu é o maior ponto de distribuição de drogas anti-Aids nesta parte de KwaZulu-Natal, a província com o maior número de infecções por HIV no país.


O diretor da clínica, o médico Bright Mhlongo, diz que o uso de Stocrin na whoonga "limita os nossos já restritos recursos em termos de tratamento com antirretroviais na África".


"A pílula é a espinha dorsal do tratamento, é o que usamos para a maioria dos nossos pacientes", disse. "Se deixarmos de utilizá-la como a base do tratamento, podemos ser obrigados a usar medicamentos que são muito mais caros e não estão facilmente disponíveis."


Comparada a outras drogas, a whoonga é barata: um tablete custa apenas 20 rands (cerca de R$ 5).



Mas os viciados na mistura precisam de várias doses por dia, segundo Vukani Mahlase, que conseguiu abandonar o vício, e que passou o último ano preso por roubo.


"Quando bate a necessidade e está sem dinheiro (para comprar outra dose), você topa qualquer coisa. Eu e meus amigos podíamos usar armas de fogo e facas, qualquer coisa ao alcance, para conseguir algum dinheiro para comprar um pouco mais", afirma.


Mahlase, que também é portador do HIV, diz que quer largar o vício.


"Os médicos me disseram que se eu continuar a fumar a whoonga, pode afetar a maneira como meu corpo responde ao tratamento", conta.


Entre outros riscos da whoonga apontados pelos médicos estão hemorragias internas, úlceras de estômago e, em alguns casos, até a morte.


'Gosto amargo'


Outro dependente de whoonga, que não quis ser identificado, afirmou que, como é comumente o caso, a experiência com o novo coquetel começa como "um barato" e termina com gosto amargo.


"(A whoonga) é altamente viciante. Você precisa fumar só para se sentir normal", contou o jovem, usuário da droga há três anos.


"Quando a vontade chega tenho dores nas juntas e dores fortes no estômago. É como se os órgãos internos estivessem em chamas. Preciso fumar só para aliviar a dor."


Jovens participantes do projeto Whoonga Free, na comunidade de KwaDabeka, nos arredores de Durban, responsabilizam a pressão dos amigos pelo vício.


Thabane Chamane, 21, diz que "não há emprego suficiente aqui e você acaba se envolvendo com as coisas erradas".


"Whoonga era o que havia no meu tempo e foi por isso que comecei a fumar. Eu queria ser igual a todo mundo", disse Chamane.


Siphesihle Pakisi, 19, concorda: "Eu tinha muitas dificuldades de lidar com o divórcio dos meus pais e meus amigos me contaram que a droga fazia esquecer tudo isso. Eles diziam que tirava todo o estresse - e funcionou, mas por pouco tempo".


Pakisi e seus amigos gastavam até 200 rands por dia (R$ 50) em whoonga. Quando um deles morreu de overdose, ele conta, veio a decisão de abandonar o vício.


"Meu amigo morreu bem debaixo do meu nariz. Ele vomitou até as tripas. Foi assustador e eu não queria que o mesmo acontecesse comigo", diz Pakisi, olhando para o horizonte.


Vida nova


Até 2008, o tratamento de HIV/Aids na África do Sul com antirretrovirais enfrentava limitações por causa do alto custo das drogas.


Estima-se que em 2007 as mortes por Aids na África do Sul alcançaram 350 mil. O país tem 1,4 milhão de órfãos da Aids.


O presidente sul-africano, Jacob Zuma, eleito há dois anos, prometeu aumentar a distribuição dos medicamentos. Mas o governo precisa garantir que os medicamentos acabem nas mãos certas.


Além disso, Thokozani Sokhulu, que fundou o Whoonga Free em 2008, diz que é preciso também oferecer possibilidades de uma vida melhor para os jovens que acabam se viciando na droga pela falta de perspectiva.

"Não basta prender os traficantes; é preciso oferecer alternativas para os usuários", diz Sokhulu. "Nossos jovens estão pedindo ajuda."


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