Apesar de se manifestar especialmente a partir dos 50 anos de idade, a catarata não é uma patologia que só compromete os adultos. Crianças podem nascer com o cristalino - lente natural do olho - opacificada e também podem ter a visão embaçada e as cores esmaecidas ainda na infância. Elas precisam de tratamento urgente quando têm este diagnóstico, para evitar a perda parcial ou total da visão, alerta a oftalmo-pediatra do Hospital Oftalmológico de Braslia (HOB), Virgínia Cury.
Congênita
Muitas vezes causadas por doenças ao longo da gravidez, como a rubéola, o citomegalovirus (CMV) e outras infecções, ou relacionadas a fatores genticos, a catarata congênita exige tratamento urgente. "A estrutura ocular perfeita é desenvolvida até os três meses de idade e a catarata congênita, se no diagnosticada a tempo, pode prejudicar esse desenvolvimento, impedindo que a criança desenvolva uma visão de boa qualidade ao longo da vida", explica Virgínia.
A catarata congênita pode ser diagnosticada já nos primeiros momentos de vida, no exame do olhinho, obrigatório por lei em todas as maternidades brasileiras. O profissional de saúde aponta uma lâmpada especial com uma luz vermelha para os olhos do bebê e verifica se há reflexo vermelho (cor natural da retina, o fundo do olho). Quando branco, esse reflexo indica a existência de algum impedimento como a catarata, por exemplo, para a chegada da luz ao fundo do olho. "Muitas vezes, a própria mãe percebe que há algo de anormal com o olho de seu filho durante o cuidado cotidiano. Já tive casos em que mães chegavam ao consultório afirmando que perceberam uma diferença na coloração da pupila da criança, quase imperceptível a olho nu", conta a médica.
Segundo a especialista, a melhor forma de prevenir ou diagnosticar a catarata congênita em tempo de tratar é fazendo o acompanhamento pré-natal e o exame ocular no recém-nascido. "É importante que a mãe vá a todas as consultas e faça todos os exames exigidos no pré-natal para que se consiga prever alguma irregularidade no desenvolvimento da criança e para que, ao nascer, possam ser tomadas as devidas providências, evitando a perda da visão do bebê. As chances de resolver o problema são maiores, quanto mais precoce for o diagnóstico", alerta Virgínia.
Catarata Infantil
A catarata também pode acometer crianças na média infância. Fatores como heranças genéticas, traumas oculares, inflamações dentro do olho (uvetes) e o uso inapropriado de corticoides podem desenvolver a opacidade no cristalino.
A especialista do HOB salienta que, apesar de silenciosa, a catarata infantil tem sintomas que podem ser percebidos tanto pela criança quanto pelos pais ou professores. "O paciente apresenta baixa visão, embaçamento, dificuldade para enxergar. A criança também pode apresentar dificuldade para reconhecer pessoas perto ou para ver televisão. Há situações em que pais descobrem que há algo errado com os olhos dos filhos ao tirar fotos e perceberem um reflexo branco na imagem. Em todos os casos, é importante trazer imediatamente a criança para uma avaliação médica", lembra.
Tratamento
O tratamento tanto para a catarata congênita quanto para a infantil varia de acordo com a incidência da doença (em um ou em ambos os olhos), mas a cirurgia do cristalino ocorre nas duas situações. "Quando os dois olhos são operados, o oftalmologista espera a criança crescer até os seis anos de idade, quando o olho vai adquirir a proporção correta para implantar uma lente intraocular. Até lá, o paciente usará óculos para compensar o grau resultante da ausência da lente intraocular", explica Virgínia.
Já quando a catarata incide somente sobre um olho, o tratamento é mais complexo. "Quando apenas um olho é acometido pela catarata, é necessário extrair o cristalino e já implantar uma lente intraocular, já que a ambliopia (diferença muito grande de grau entre os olhos) faz com que o cérebro tenha dificuldade de formar uma imagem. Mesmo com a lente implantada, a criança passará por um tratamento de compensação e estímulo visual para evitar o surgimento de ambliopia, com a utilização de tampão e óculos", completa.
Quando o paciente alcançar os 6 anos de idade, a estrutura ocular estará mais desenvolvida, e será submetido a uma nova cirurgia para trocar a lente implantada anteriormente por uma nova que o acompanhará pela vida. A especialista do HOB alerta que "uma operação tardia do cristalino danificado, no caso da catarata congênita, depois dos 3 meses de idade, comprometerá severamente a qualidade de visão do paciente ao longo da vida". (com ATF Comunicação)