A vacina CoronaVac se mostrou 50% efetiva em prevenir adoecimento por Covid-19 após 14 dias da primeira dose, na análise interina de efetividade em trabalhadores de saúde em Manaus. O estudo, do grupo Vebra Covid-19, é o primeiro que avalia o impacto do imunizante em locais onde a variante P.1, conhecida como variante brasileira ou de Manaus, é predominante.
O estudo envolveu 67.718 trabalhadores de saúde que moram e trabalham em Manaus. "Os resultados são encorajadores", diz o cientista Julio Croda, que coordenou o estudo. "Eles mostram que a Coronavac segue sendo efetiva para a nova variante do Brasil [batizada primeiramente como variante de Manaus] e poderá ser usada no mundo todo para prevení-la", afirma o infectologista da Fiocruz. Os dados relativos à efetividade depois de 14 dias da segunda dose ainda estão sendo coletados, e por isso o trabalho seguirá pelas próximas semanas.
Croda afirma que a variante brasileira já está se tornando predominante em muitos países da América Latina. Daí a importância do resultado encontrado agora em Manaus.
O estudo foi realizado na capital do Amazonas justamente porque a nova cepa do coronavírus prevalece na cidade. Ela foi descoberta em 10 de janeiro de 2021, quando o Japão notificou o Brasil de que quatro viajantes com sintomas de Covid-19 que desembarcaram em Tóquio vindos do Amazonas estavam infectados com uma nova variante do Sars-CoV-2, como é também chamado o coronavírus.
NO JAPÃO
As autoridades japonesas informaram que a nova cepa continha 12 mutações, entre elas uma alteração na proteína que permite a entrada do vírus nas células humanas. Ela foi observada também em novas linhagens identificadas no Reino Unido e na África do Sul. Todas são possivelmente mais contagiosas.
NO BRASIL
A nova variante rapidamente se espalhou pelo país. E a ela foi creditada uma maior transmissibilidade da doença, alarmando autoridades de todas as regiões.
Segundo Julio Croda, o grupo vai avaliar agora a efetividade da Coronavac e da Oxford/AstraZeneca em idosos das cidades Manaus, Campo Grande e de todo o estado de SP.
Os estudos de efetividade vacinal, como o feito em Manaus, avaliam o impacto real da vacinação na redução de casos, mortalidade ou hospitalizações por determinada doença. Um exemplo dado por cientistas: o número de registros de meningite meningocócica em menores de 2 anos no Brasil caiu 70% após a vacina meningocócica C ter sido incluída no SUS.
É diferente de eficácia, que é a capacidade da vacina prevenir a enfermidade contra a qual se destina. Quando se afirma que uma vacina tem 95% de eficácia, significa que, de cada cem vacinados, 95 ficam protegidos. Ou seja, cinco ainda podem adoecer. Daí a importância da vacinação em massa. Ela diminui a circulação do vírus e protege os que ainda podem ficar doentes e aqueles que não podem, por qualquer razão, se vacinar.
ASSINATURA
O Vebra Covid-19, que fez o estudo de Manaus, é integrado por pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, como Fiocruz, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universidade de Brasília (UnB), Barcelona Insitute for Global Health, Yale School of Public Health, Stanford Medicine e University of Florida, e por servidores das secretarias estaduais e municipais de saúde do Amazonas e de São Paulo. Ele tem o apoio da Opas (Organização Panamericana de Saúde).