O consumo regular de verduras, legumes e frutas teve alta no último ano, voltando aos patamares de antes da pandemia de Covid-19, mas continua baixo e marcado por iniquidades.
Menos da metade (45,5%) da população consome verduras e legumes cinco vezes ou mais na semana. A prevalência de consumo de frutas é um pouco menor (41,8%). Em 2022, eram 39,5% e 38,4%, respectivamente.
Os dados são da segunda edição do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), projeto desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas) com financiamento da Umane e apoio da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
Os números mostram que são as pessoas acima de 65 anos as que mais consomem esses alimentos. Por exemplo, 62,8% delas comem frutas cinco vezes ou mais por semana.
"Há duas grandes barreiras para o consumo de frutas e verduras. A primeira é que os jovens, tradicionalmente, gostam de frituras, de comidas não saudáveis. A segunda é o poder aquisitivo. O Brasil já está migrando para o modelo americano. Comer comida ultraprocessada é baratíssimo, e comer frutas, verduras e legumes acaba sendo mais caro", explica Pedro Hallal, professor da UFPel e um dos coordenadores do Covitel.
Os dados mostram que as mulheres consomem mais verduras e legumes do que os homens, 51,5% e 39,1% respectivamente. As pessoas de maior escolaridade (12 anos ou mais de estudo) idem: 57,5 % contra 40,9% dos menos escolarizados (zero a oito anos de estudo).
As disparidades regionais também são grandes. Por exemplo, no Norte, 36,4% da população inclui esses alimentos na sua dieta cinco vezes por semana. No Sul, a prevalência é de 52,6%.
O consumo regular de frutas tem cenário parecido: está presente na vida de 48,2% da população mais escolarizada, com 12 anos ou mais de estudo, e de 39,3% entre os com zero e oito anos de estudo.
Os mais velhos (65 anos ou mais) são os que mais consomem esses alimentos (62,8% contra 33,5% dos mais novos), as mulheres mais do que os homens (49,6% contra 33,4%), e os brancos mais do que os pretos e pardos (47,3% contra 37,9%).
"São dois problemas. Além de o consumo desses alimentos ser baixo, quem consume são aqueles de renda maior, provavelmente, se levada em conta a escolaridade, a raça/cor e a região", diz Luciana Sardinha, gerente sênior de DCNT da Vital Strategies e uma das coordenadoras do Covitel.
Para Pedro Hallal, há formas de enfrentamento dessas desigualdades, com políticas públicas que aumentem o acesso a alimentos saudáveis. "Aí depende de investimentos em agricultura familiar, taxação maior aos alimentos ultraprocessados e campanhas educativas. O outro lado da solução é mais complexo, que é reduzir as desigualdades no país. Aí precisamos de políticas públicas que priorizem quem mais precisa e não quem mais tem."
A prática de atividade física, um fator de proteção para as DCNT, também apresenta cenário bastante preocupante: apenas 31,5% dos brasileiros se exercitam semanalmente de forma moderada ou vigorosa por, pelo menos, 150 minutos, conforme recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde).
E, de novo, há grande disparidade por sexo, idade e escolaridade. Enquanto 34,8% dos homens são fisicamente ativos, entre as mulheres esse índice cai 28,3%.
Entre as pessoas com maior escolaridade (12 anos ou mais), 48,3% são fisicamente ativas, mais que o dobro dos menos escolarizados (zero a oito anos de estudo), com apenas 20,9%.
Embora os mais jovens sejam os mais ativos (37,9% contra 18,9% dos mais velhos), a taxa ainda é considerada muito baixa. "Tudo isso está influenciando no sobrepeso, na obesidade", afirma Sardinha.
Segundo ela, faltam políticas públicas que incentivem as pessoas a se exercitarem fora de academias e lugares pagos até como forma de reduzir as disparidades.
"Mesmo que a pessoa queira, não tem uma infraestrutura adequada. Não tem segurança, não tem iluminação, não tem calçada para dar uma caminhada quando ela chega em casa depois de três horas de transporte coletivo."
Para Sardinha, a área da saúde não consegue resolver sozinha esses desafios todos. "Depende de uma intersetorialidade, as várias pastas trabalhando em prol disso. Tem que olhar meio ambiente, segurança, infraestrutura, a mobilidade urbana."