Neste domingo (5 de maio), comemora-se o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. A data foi criada para alertar a população sobre os problemas graves ligados à automedicação e à utilização indiscriminada de remédios.
Uma situação bastante perigosa e que mostra a importância de se diminuir a automedicação é o uso de remédios como ácido acetilsalicílico, antiagregantes ou anticoagulantes por parte de pacientes com dengue. "Todos esses medicamentos são contraindicados na ocorrência da doença, pois ampliam o risco de hemorragias potencialmente presente nessa doença. Assim, a combinação da dengue com os remédios aumenta de maneira expressiva a possibilidade de sangramentos", explica o cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, presidente da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).
Somente este ano, até abril, já são mais de 451 mil casos prováveis de dengue (um aumento de 339% em relação ao mesmo período de 2018). "Por isso, a importância de redobrar a prevenção e de, aos primeiros sintomas suspeitos, procurar de imediato assistência médica. Em caso de confirmação da doença em pacientes com doenças cardiovasculares, o médico infectologista, que cuidará da dengue, poderá trabalhar em conjunto com o cardiologista, buscando a melhor opção de tratamento para cada caso", explica.
Outro exemplo ocorreu em março deste ano, quando uma diretriz foi revista por um estudo divulgado pela American Heart Association e pelo American College of Cardiology. O uso de ácido acetilsalicílico para prevenção de doenças cardiovasculares não é mais recomendado.
Segundo Saraiva, não existiam evidências suficientes para se prescrever a medicação como prevenção primária. Era habitual, no entanto, a indicação de uso a pacientes com alto risco cardiovascular com base em um senso comum. Com isso, o risco de sangramentos se tornava maior do que o benefício proposto pela droga, principalmente nos mais idosos.
Porém, os pacientes que já apresentaram infarto, angina, doença coronária crônica (angioplastia e atente) ou AVC isquêmico não devem interromper o medicamento. Para estes, as indicações não mudaram com os novos estudos. "Isso só reforça que a utilização de um medicamento pode ser perigosa e só deve ser iniciada após a avaliação médica", comenta.
Saraiva destaca, ainda, que, em caso de suspeita de ataque cardíaco, a recomendação é que o ácido acetilsalicílico seja administrado em doses de 200 mg a 325 mg. Na prática, podem ser usados dois comprimidos de AAs infantil para quem esteja com dor no peito, com suspeita de infarto e não seja alérgico ou tenha sangramento ativo. Nesses casos, a aspirina reduz por volta de 20% as mortes do infarto, comparada com placebo, pois já começa a agir na "destruição do trombo", principal causa de obstrução da artéria do coração (coronária).
Sempre que houver dúvida, o melhor remédio é procurar o seu médico.