Um aumento global na distribuição e na gravidade da dengue no Brasil. Esse é o retrato da doença na última década, segundo estudo publicado na edição mais recente do periódico científico PLOS Neglected Tropical Diseases. A revisão de literatura, que reúne dados epidemiológicos registrados em 51 estudos e teve como objetivo compreender o comportamento da doença no país, revela tendências que merecem atenção.
A análise dos dados demonstra o aumento do registro de casos graves com o consequente crescimento das hospitalizações e mortes, sobretudo devido à co-circulação dos quatro sorotipos do vírus no país e à alta incidência da doença. De 2000 a 2010, mais de 8,44 milhões de pessoas contraíram dengue no Brasil - o maior volume em todo o continente americano no período -, sendo 221 mil casos graves, com mais de 3 mil mortes. Em 2010, foram registradas 80.000 hospitalizações relacionadas à doença.
Outra tendência apontada pela revisão de literatura, apesar da intensificação das medidas de combate ao mosquito, é o constante aumento do número de casos notificados ano a ano. Somente em 2010 mais de um milhão de brasileiros foram infectados. Em 2000, o total de casos registrados não ultrapassou 200 mil.
Também foi observada uma distribuição da doença em todas as faixas etárias. Desde 2007, a dengue, antes mais comum em adultos jovens, também passou a acometer de forma sistemática crianças e idosos.
Retrato atual
Segundo dados de outro levantamento epidemiológico, publicado no Livro Saúde Brasil 2012, editado pelo Ministério da Saúde, em 2013, a transmissão superou todas as experiências anteriores.
No ano passado, foram notificados 2 milhões de casos de dengue no país. "Foram mais de sete semanas consecutivas com mais de 100 mil casos registrados semanalmente", destaca o professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás, João Bosco Siqueira Junior, autor de ambos os estudos.
"As ações de controle do vetor (mosquito) não estão sendo efetivas e a situação é cada vez mais preocupante", alerta a professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de da Bahia, Maria Gloria Teixeira, uma das autoras do estudo publicado na PLOS.
Para conter o avanço da epidemia e evitar as consequências mais graves da doença, a pesquisadora recomenda que a população mantenha o ambiente doméstico livre de criadouros do mosquito e fique atenta aos sinais de alerta da doença: febre alta, dor abdominal intensa, tontura com desmaios e rompimento de vasos superficiais da pele.
"Precisamos usar todas as alternativas tecnológicas disponíveis para controlar a transmissão da dengue", enfatiza o pesquisador João Bosco Siqueira Junior.
Inovações no combate à dengue
Entre as novidades no combate à transmissão da doença, está em estudo a vacina tetravalente contra o vírus da dengue. É a vacina que está em fase mais avançada de desenvolvimento clínico e industrial.
De acordo com a Dra. Lucia Bricks, diretora de saúde pública da empresa responsável, Sanofi Pasteur, os estudos clínicos mostram que a vacina tetravalente contra a dengue é bem tolerada, com perfil de segurança semelhante após cada uma das doses. "Os resultados preliminares de eficácia demonstram, pela primeira vez, que uma vacina candidata contra a dengue é capaz de proteger contra a doença. Em 2014, estão previstos os resultados dos estudos de fase III, em mais de 31 mil indivíduos, que vão avaliar a eficácia da vacina em uma população mais ampla e em diferentes ambientes epidemiológicos", finaliza a médica.