Enquanto Estados Unidos e Europa têm três opções de remédio de nova geração para mieloma múltiplo, o Brasil dispõe apenas de duas drogas aprovadas. Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) recebem só uma delas. No caso do mieloma múltiplo, a disponibilidade de alternativas é importante porque a doença não tem cura: todos os pacientes terão recidivas, momento em que a estratégia terapêutica deve ser trocada.
O panorama de como esse câncer que acomete a medula óssea é tratado mundialmente foi apresentado ontem em evento no Rio, promovido pela International Myeloma Foundation (IMF), organização de apoio aos pacientes. Trata-se da segunda doença onco-hematológica mais frequente, atrás do linfoma, e a principal causa de transplante de medula. No Brasil, a estimativa é de que a doença atinja 4 em cada 100 mil pessoas, diagnosticadas geralmente entre 65 e 70 anos.
As drogas indicadas são a talidomida - que, apesar de antiga, foi incorporada ao tratamento em 1999 e é a única disponível no SUS -, o bortezomibe e a lenalidomida, esta ainda não aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A medicação apontada pelo professor da Escola de Medicina de Harvard Paul Richardson como uma das mais promissoras é justamente a lenalidomida.
Richardson, diretor clínico do Instituto de Câncer Dana-Faber, ligado a Harvard, foi um dos participantes do encontro de quinta-feira (08). "A doença sempre vai retornar. Enquanto o transplante de medula serve apenas para pacientes mais jovens, as novas drogas beneficiam jovens e velhos."
A agência brasileira reprovou a droga por concluir que os estudos apresentados pelo laboratório Celgene foram insuficientes para provar sua eficácia. Os mesmos estudos levaram à aprovação do medicamento na Europa e nos EUA. Na Anvisa, os trâmites têm se prolongado por quase quatro anos.
Segundo a agência, "o processo de registro encontra-se em recurso administrativo, aguardando decisão da Diretoria Colegiada da Anvisa (Dicol)". O recurso pode ser julgado ainda neste ano.
No caso do paciente Dorival Urino, de 68 anos, a indicação da lenalidomida veio após um transplante e várias recaídas. "Não tinha condições de fazer nada sozinho. Um dia, após quatro meses tomando esse remédio, acordei sem nada. Hoje, dirijo sozinho até a clínica em que me trato."
Segundo a médica Vânia Hungria, da Faculdade de Medicina da Santa Casa, além das poucas opções de tratamento para mieloma no País, o diagnóstico é feito tardiamente. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.