A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), da França, vão unir esforços para a construção de um sítio sentinela para a caracterização e o monitoramento do impacto dos processos ambientais, climáticos e sócio-demográficos sobre a malária na fronteira Guiana Francesa–Amapá.
O sítio sentinela funcionará como um amplo sistema de informações que vai reunir dados sobre espécies de vetores presentes, o nível da água dos rios, desmatamento, urbanização, migrações, mudanças no uso do solo, entre outros fatores que influenciam na transmissão da malária na região.
As informações serão obtidas por meio de pesquisas de campo e métodos de geoprocessamento e de sensoriamento remoto.
A malária é um grave problema de saúde pública na Amazônia. Nas áreas de fronteira, o controle da doença é difícil, uma vez que as regiões apresentam rápida ocupação de terras, urbanização e mobilidade populacional.
Na Guiana Francesa, o número de casos chega a cerca de 1.400 mil por ano, sendo que o município do Oiapoque, no Amapá, soma cerca de 4 mil casos a cada ano, configurando uma das zonas de maior transmissão de malária das Américas.
Inicialmente os dados obtidos serão incorporados a um Portal Web, que será alimentado em tempo real e, posteriormente, transformado em um sistema de informações mais complexo. A previsão é de que a ferramenta esteja pronta no início de 2015.
A ideia é incentivar a realização de pesquisas na região e auxiliar pesquisadores e secretarias municipais e estaduais no combate à doença. "Observamos que, após um verão quente e chuvoso, com alto nível de água dos rios, chega um inverno com alto índice de malária. A partir do sítio sentinela, podemos, por exemplo, criar um sistema de alerta, usando alguns modelos matemáticos, para atentar para eventuais problemas que possam acontecer na região", explica o coordenador do projeto no Brasil, Cristovam Barcellos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
Barcellos reforça que o sítio sentinela vai atuar como um reforço ao sistema de vigilância sanitária em malária na área, com o uso de novas tecnologias de informação. Segundo ele, as metodologias utilizadas devem ser levadas a outras áreas de fronteira para o combate não somente à malária, mas também a outras enfermidades, como chikingunya e ebola. "Essa questão das fronteiras internacionais está cada vez mais difícil, devido à circulação de novos vírus. É preciso criar mecanismos de detecção de riscos e de aconselhamento", alerta.
A diretora do Espaço para o Desenvolvimento, unidade de pesquisa do IRD, Frederique Seyler, conta que alguns estudos já vinham sendo desenvolvidos na região, mas são restritos a grupos populacionais particulares e locais específicos.
Segundo o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, o projeto vai ajudar no enfrentamento dos atuais desafios da saúde global.