As agências de vigilância sanitária estadual, municipal e federal só souberam da contaminação da bebida de soja Ades pelos meios de comunicação. A empresa responsável pelo produto, a Unilever, só informou sobre o problema ocorrido em parte do lote do sabor maçã embalagem de 1,5 litro, envasado com soda cáustica, depois de solicitada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Não foi uma ação espontânea da empresa", afirmou José Agenor Álvares, um dos diretores da agência.
"Nós não fomos comunicados oficialmente (do recall do produto) em momento algum", criticou o diretor. Embora não haja uma legislação clara sobre a necessidade de comunicação à vigilância sanitária, a empresa, segundo afirmou Álvares, deveria ter comunicado o problema à Anvisa. "Nós deveríamos ter sido comunicados. Não devemos ficar só no formalismo, não é proibido fazer a comunicação", afirmou. "Até pela parceria que temos com o setor, eu acho que nós deveríamos ter sido comunicados", disse.
A Anvisa já tem pronta uma minuta com normas sobre o recolhimento de alimentos e a comunicação aos órgãos de vigilância sanitária. A proposta está em discussão há três anos e deverá ser colocada em consulta pública em breve, segundo informou o diretor, durante audiência pública nesta quarta-feira na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara para discutir o recall do Ades.
Álvares informou que vai se reunir com representantes da empresa que desenvolveu o software usado pela Unilever para envasar a bebida de soja, a Tetra Pak, para buscar garantias de qualidade dos produtos. "Se houve o problema na Unilever, pode acontecer em outro lugar que tenha o mesmo equipamento", afirmou o diretor da Anvisa. A Unilever identificou falha operacional na máquina que entrou em operação com o material de limpeza no lugar da bebida de soja.
Empresa
O vice-presidente da Unilever Brasil, Newnam Debs, insistiu, na audiência, que a contaminação foi pontual em 96 unidades de 1,5 litro do sabor maçã. "Nós temos confiança, tranquilidade, estamos seguros de que são 96 unidades", disse. Ele afirmou que houve falha no sistema de operação e que, por 80 segundos. as embalagens de uma das 11 linhas de produção da fábrica receberam produto de limpeza - soda cáustica a 2,5% e água a 97,5% - no lugar do suco.
Debs não foi preciso ao dizer sobre o tempo que levou para a empresa comunicar o recall ao Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça (DPDC) e à Anvisa. "Nossa primeira preocupação e esforço foi dar o máximo de conhecimento aos consumidores, para evitar que as pessoas consumissem (o produto) desavisadamente. Entramos em contato com a imprensa, colocamos no site da marca. No dia seguinte, saíram anúncios nos jornais, TVs e rádios", afirmou. "Concomitantemente, fizemos a informação oficial às autoridades. Preparamos todo o dossiê obrigatório e comunicamos ao DPDC. Em seguida, comunicamos à Anvisa. Entendemos que seguimos o que manda a legislação", afirmou o vice-presidente da Unilever.
Histórico
A empresa informou sobre o recall das 96 unidades da bebida de soja ao DPDC no dia 14 de março, 17 dias após o envase irregular do produto, dia 25 de fevereiro, e nove dias após o início da distribuição da bebida, no dia 5 de março. No dia 6 de março, a Unilever recebeu uma reclamação por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Debs afirmou que, no dia 11 de março, a empresa recebeu uma comunicação da associação de supermercados e, no dia 12, foram feitos testes em amostras que comprovaram a existência de produto de limpeza no lugar da bebida de soja.
O diretor do DPDC, Amauri Oliva, afirmou que informações apontam que das 96 embalagens do Ades com problema, 46 foram recolhidas. Segundo ele, no Brasil, são realizados em torno de 70 recalls por ano, o mesmo número de recall que os Estados Unidos têm por mês. "Quero acreditar que a qualidade de nossos produtos seja melhor", afirmou Oliva.