A FDA (agência americana reguladora de medicamentos e alimentos) autorizou nesta quarta-feira (31), em caráter emergencial, a aplicação de versões de vacinas contra Covid adaptadas à variante ômicron.
O imunizante desenvolvido pela farmacêutica Moderna poderá ser aplicado nos Estados Unidos em indivíduos acima de 18 anos e o da Pfizer, naqueles acima de 12 anos. Nos dois casos, a aplicação deve ser realizada com pelo menos dois meses de intervalo da última dose.
As vacinas das duas companhias utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), que permite mimetizar a proteína spike -usada pelo vírus para se ligar às nossas células e invadi-las-, ativando o sistema de defesa do organismo. A diferença dos novos imunizantes é que eles contêm duas sequências de mRNA: uma com codificação para a proteína spike original e outra para a proteína spike das linhagens BA.4 e BA.5 da ômicron.
Segundo a FDA, as linhagens BA.4 e BA.5 são as que causam mais mortes nos EUA atualmente e que devem ter maior circulação durante os meses de outono e inverno. Com a medida, o órgão espera um aumento na proteção durante esse período mais frio.
"Temos mais de dois anos de pandemia e é de se esperar que as vacinas sejam atualizadas porque o vírus sofre mutações. Hoje, ainda vemos vacinas direcionadas a cepas ancestrais, à cepa de Wuhan. Elas continuam nos protegendo de formas graves, mortes e hospitalizações, porém a duração de proteção vem se mostrado muito curta, tanto é que temos convocado a população para doses de reforço", afirma a infectologista Rosana Richtmann, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
A médica explica ainda que a maior quantidade de anticorpos pode levar a uma proteção mais prolongada e, se isso se confirmar, será uma das grandes vantagens dessas atualizações.
No comunicado, a FDA afirma que tomou a decisão de autorizar os imunizantes considerando as evidências sobre os efeitos positivos das vacinas monovalentes das duas empresas, estudos com uma vacina bivalente com codificação para a linhagem BA.1, similar à BA.4 e à BA.5, e dados de estudos em fase pré-clínica com as linhagens selecionadas.
O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) discutirá nesta quinta-feira (1) se recomenda as duas novas vacinas em território americano.
No Brasil, a Pfizer protocolou no último dia 19 na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um pedido para utilização da vacina bivalente para a variante ômicron BA.1. "Vale ressaltar que o contrato atualmente vigente de fornecimento de vacinas da Pfizer ao Brasil inclui a entrega de potenciais vacinas adaptadas e/ou para diferentes faixas etárias", disse a farmacêutica na ocasião.
Para Richtmann, caso os estudos confirmem proteção prolongada das vacinas bivalentes, seria possível planejar campanhas anuais de vacinação contra Covid juntamente com as da gripe, por exemplo.
"As vacinas de mRNA vieram para ficar. Um dos maiores legados da pandemia são as novas tecnologias de vacinas não só para as subvariantes da ômicron, mas também para outros microrganismos. A velocidade de desenvolvimento de novas vacinas daqui para a frente vai ser muito maior porque é muito mais fácil ajustar uma vacina com essa tecnologia do que fazer outra com vírus inativado", avalia a infectologista.