A endometriose é uma doença encontrada como causa principal ou associada em até 60% das mulheres com infertilidade. A doença se caracteriza por fragmentos do tecido que reveste o interior do útero (endométrio) encontrados fora deste local, na maioria das vezes próximos ao próprio útero, tubas uterinas, ovários, além de dentro do abdome, bexiga e intestino. Apesar de silenciosa em algumas mulheres, em outras ela provoca processos inflamatórios que ocasionam dores intensas e dificuldade para engravidar.
"Durante a ovulação, os hormônios envolvidos no processo podem fazer com que os fragmentos de endométrio proliferem, razão pela qual a doença é comum em mulheres em idade reprodutiva. Isso produz uma inflamação crônica que, além de afetar a fertilidade, libera substâncias que causam cólica menstrual e dores pélvicas fora do período menstrual e que podem ser incapacitantes", afirma Karla Zacharias, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington.
A doença também prejudica as taxas de fecundidade nas mulheres que a apresentam. Normalmente, elas variam em torno de 15% a 20%, e quando a doença existe as mulheres podem ter taxas entre 2% a 10% de chances de gestação natural por mês de tentativa. "Por esse motivo, quem não consegue engravidar por conta da doença tem alternativas como cirurgias para a retirada das lesões e o posterior tratamento de fertilidade por técnicas como a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro", diz a médica.
A intensidade e a frequência dos sintomas, que também variam de paciente para paciente, somados ao fato de que a endometriose não é a única causa de infertilidade e das dores menstruais, acabam dificultando o diagnóstico. É conhecido que 20% a 25% das mulheres não mostram sintomas, e a doença somente é detectada em exames ou cirurgias realizadas por outros motivos, que não as dores pélvicas ou a infertilidade.
A origem do problema
Um dos grandes mistérios da medicina é como endometriose surge e se comporta. "O refluxo do sangramento menstrual através das tubas uterinas, a mutação de algumas células do peritônio em células de endométrio por conta de agressões, e o mau posicionamento de algumas células endometriais no embrião enquanto a mulher ainda era gestada, são algumas das teorias para o surgimento da doença", explica. De acordo com a especialista, no entanto, essas são apenas algumas das teorias e nenhuma delas consegue abranger todos os aspectos do problema.
De acordo com pesquisas, é provável que a predisposição genética seja um fator decisivo já que é um problema comum entre mulheres que a apresentam no histórico familiar. Porém, é possível que haja fatores ambientais responsáveis por seu surgimento em pessoas com alguma predisposição. Por conta disso, é de grande importância o avanço das pesquisas científicas para esclarecer precisamente os mecanismos de ação da doença e, assim, proporcionar um tratamento cada vez mais individualizado e eficiente para melhorar a vida dessas mulheres.