As ondas de calor, cada vez mais comuns e intensas, podem literalmente matar as pessoas, alertam médicos ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo.
As mudanças climáticas, que já são uma realidade, podem contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde, em alguns casos fatais, por causa das altas temperaturas, aliadas a comportamentos de risco, como não beber água com regularidade.
Um estudo multidisciplinar publicado na revista Nature Climate Change em maio de 2021 indica que 37% dos 29 milhões de mortes relacionadas ao calor, registradas em 43 países, entre 1991 e 2018, podem estar ligadas às mudanças climáticas decorrentes da ação humana, como a queima de combustíveis fósseis.
Leia mais:
Brasil não usará mais vacina de gotinha contra a pólio; entenda a mudança
Mortes de gestantes são associadas a maiores restrições ao aborto nos EUA
Anvisa avalia novo tratamento para câncer de pulmão
Maternidade Municipal de Londrina oferece oficina de parto para gestantes
O trabalho é assinado por 69 pesquisadores, incluindo cientistas do Brasil.
O médico Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, explica que não existe uma temperatura exata para definir um calor que represente riscos à saúde. Cada corpo, de acordo com o especialista, reage de forma diferente ao ambiente.
Porém, é sabido que alguns grupos como idosos, obesos, pessoas muito magras e crianças podem ser mais frágeis às altas temperaturas.
"O idoso, por exemplo, pelo próprio mecanismo de envelhecimento, conta com menos sensibilidade a sentir sede", destaca o geriatra, que também atua no hospital Beneficência Portuguesa.
Por isso, acrescenta, o idoso pode ficar mais facilmente desidratado, principalmente em dias de calor extremo.
Para manter a temperatura interna entre 34ºC e 36ºC, o corpo, em dias de calorão, usa como recurso, dentre outros, a transpiração. Caso a pessoa já esteja desidratada, o quadro se agrava, podendo provocar problemas nos rins, no coração e eventuais acidentes, decorrentes de desmaios.
"O idoso é de um grupo de risco, pois é mais vítima de desidratação, por não conseguir compensar o que o corpo faz naturalmente. Para compensar isso [falta de líquidos], o corpo passa a ter um mecanismo para tentar preservar energia, podendo resultar em confusão mental e alterações neurológicas", conta o médico.
Em casos extremos, acrescenta, pode haver falência múltipla de órgãos, levando à morte –que também pode ocorrer em eventuais quedas, após desmaios provocados pela desidratação.
Como medida preventiva, Chehter indica a ingestão constante de água e também de alimentos ricos em líquido, como melancia e melão.
Além disso, é importante dar atenção a sintomas como boca seca e urina de cor escura, porque isso pode ser um indício de desidratação. Caso sinta muita fadiga e sonolência, vá para um hospital, indica o médico.
Outro sinal dos efeitos provocados pelas altas temperaturas no corpo é a queda da pressão arterial, explica Paulo Camiz, professor da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas.
Especialmente mulheres e pessoas com baixo peso ou com pouca massa magra (músculos), por, em geral, já contarem com pressão arterial mais baixa, podem ser parte dos grupos de risco nos dias de altas temperaturas.
Pessoas que usam medicamentos para controlar a pressão arterial também precisam ficar atentas em dias de calor fora da média. "Se a pressão cai, precisa adequar a dose do remédio para a nova condição, decorrente do calor", afirma o professor.
Isso ocorre, segundo o cardiologista João Vicente da Silveira, pelo fato de os remédios para pressão arterial, de forma geral, contribuírem para a queda dela. Essa condição, aliada a uma eventual desidratação,
"pode ser catastrófica", diz o médico, que atua no hospital Sírio-Libanês.
Como medida preventiva, os especialistas orientam que as pessoas evitem sair em períodos de maior calor durante o dia. "Parece óbvio, mas, se não tiver outro jeito, coloque uma roupa mais fresca, um chapéu, e se hidrate muito bem", disse Camiz.
O segredo é se hidratar. Beber água com regularidade pode parecer um hábito simples, mas, de acordo com Silveira, é algo negligenciado por muitos pacientes.
"Hoje [quarta-feira] mesmo vi isso. Pessoas não tomam água. Aí se desidratam. Perdem potássio, magnésio e sódio. Isso aumenta a desidratação. A pessoa fica sonolenta, com tonturas, podem ocorrer quedas, síncopes, dor no peito, na cabeça, irritabilidade. Aí quer tomar um comprimido, mas a pessoa precisa é tomar água, aí ela melhora", relata.
Para Silveira, muitas pessoas não se hidratam adequadamente por questões físicas e até mesmo comportamentais. Mulheres, por exemplo, relatam que, para evitar ir a banheiros sujos ou onde se sintam desconfortáveis, deixam de beber água.
"Também há muitos jovens que, por estarem na correria, acabam não se hidratando adequadamente, acarretando em desidratação", acrescenta.
EFEITOS DO CALOR NO CORPO
Maior e mais rápida perda de líquido
Desidratação
Problemas renais
Queda da pressão arterial
Tontura Desmaio
Queda e eventuais traumas
Morte por acidente ou por complicações da desidratação
DICAS
Tomar água com regularidade
Consumir frutas e vegetais ricos em água
Evitar sair em períodos de sol mais forte
Caso precise se deslocar nesses momentos, se proteja com bonés e use roupas leves
Ao notar qualquer anormalidade, procure um médico
Fontes: Médicos Paulo Camiz (professor da USP), Natan Chehter (Hospital Beneficência Portuguesa) e João Vicente da Silveira (Hospital Sírio Libanês)