Os colírios vendidos sem receituário podem parecer inofensivos, mas medicamentos que contêm corticoide em sua composição, quando utilizados com frequência e sem prescrição médica, podem levar à cegueira.
Ao ser usado indiscriminado, o corticoide danifica a estrutura do olho. Um desses problemas é o aumento da pressão intraocular provocado pelo glaucoma, que causa lesões no nervo ótico e, como consequência, comprometimento da função visual.
De acordo com o oftalmologista Kássey Vasconcelos, do D’Olhos Hospital Dia, medicamentos com efeitos colaterais importantes só deveriam ser adquiridos nas farmácias após a apresentação de receituário médico, mas a ausência de uma regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para os colírios com corticoide possibilita a comercialização do produto.
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O oftalmologista alerta para a importância de se consultar um médico antes de fazer uso de qualquer produto oftalmológico. "Infelizmente, muitas pessoas, ao sentir algum incômodo, vão diretamente à farmácia e compram um medicamento sem antes passar por um especialista. Com isso, acabam por colocar a saúde em risco. Obter um diagnóstico correto é fundamental para evitar problemas futuros. As doenças têm suas peculiaridades, portanto o ideal é avaliar caso a caso e utilizar o medicamento específico para cada paciente e por um determinado prazo", explica.
Além do uso incorreto de colírios, outros fatores podem desencadear o glaucoma: pessoas que têm maior propensão a desenvolver pressão alta e os portadores de diabetes. O histórico familiar também é importante para o diagnóstico, pois uma grande porcentagem de pessoas com glaucoma já tiveram outro caso na família. De modo geral, dois sinais merecem a atenção para o diagnóstico da doença: pressão intraocular acima da média e alterações no nervo ótico, perceptíveis no exame de fundo de olho.
A ausência de sintomas do glaucoma agrava ainda mais a situação. A doença age silenciosamente elevando a pressão do olho aos poucos, sem que o paciente sinta nada. Até que o glaucoma seja descoberto, a enfermidade costuma estar em um estágio irreversível.
Regulamentação
A falta de controle sobre a comercialização desse tipo de produto oftalmológico é alvo de críticas de entidades médicas. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Glaucoma editou um consenso classificando esse tipo de glaucoma como o mais comum entre aqueles de causa conhecida e, portanto, o mais evitável.
Para restringir a venda desses produtos oftalmológicos, a Sociedade Brasileira de Glaucoma já protocolou duas solicitações à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A primeira foi feita em 2011 e ficou sem retorno. A segunda foi enviada em 2013 e apenas recebeu como resposta uma explicação sobre o assunto. Até o momento, a Sociedade Brasileira de Glaucoma aguarda posicionamento sobre a exigência e retenção de receitas pelas farmácias.