O desenvolvimento de transtornos de ansiedade é um dos grandes problemas na área da saúde, na atualidade, e o trabalho tem grande participação nisso. O excesso de horas trabalhadas, cobranças abusivas e a tecnologia que deixa as pessoas conectadas o tempo todo são alguns dos exemplos de situações que podem desencadear a ansiedade.
"O que a gente tem observado é que as pessoas trabalham muito mais do que o horário previsto. Mensagens de WhatsApp ou e-mail sobrecarregam. Ela está trabalhando [a mais] e ela responde essas mensagens fora do trabalho também. Existe também uma exigência permanente de qualificação. O famoso slogan 'fazer mais com menos' parece estar colado na testa das pessoas o tempo todo", avalia Ana Carolina Lemos Pereira, doutora em Saúde Coletiva pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Professora de psicologia da PUC-Campinas, ela explica que é importante construir uma outra forma de se relacionar com o trabalho. "A gente passa um terço da nossa vida trabalhando. É bem difícil dizer que o trabalho não está relacionado com este processo de adoecimento. O trabalho é central e deve ser considerado na avaliação do sofrimento mental das pessoas", diz.
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"As pessoas associam a ansiedade sempre à fraqueza, à falta de Deus, a não dar conta e é horrível isso porque é um processo de adoecimento como qualquer outro", conta a especialista.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo, com cerca de 18 milhões.
Ana Carolina explica que, além do trabalho, redes sociais e as relações pessoais também podem ser outros gatilhos. "O sujeito moderno se cobra muito. Tem que atender muitas expectativas. Não pode ser frágil, tem que estar o tempo todo rindo na foto, no Facebook. A ansiedade se expressa individualmente nas pessoas, mas muitas vezes, é sintoma de questões sociais."
Para ela, não existe uma resposta pronta para os distúrbios da ansiedade. "A gente precisa encarar o sofrimento mental como uma coisa complexa. Não dar respostas prontas porque corremos o risco de falar coisas que não são reais e contribuir para a estigmatização das pessoas", conta.
Preconceito atrapalha busca por tratamento
O preconceito em relação à doença também é um dos fatores que podem desencadear ou agravar a ansiedade. Isso porque as pessoas demoram para admitir o problema e para procurar ajuda. Além disso, não entender o que está acontecendo cria um ambiente propício para o transtorno.
"Eu acho que as pessoas têm preconceito, não só em relação à ansiedade, mas em relação à doença mental. Todos nós temos momentos de tristeza e angústia. Em algum momento a gente vai se confrontar com o sofrimento mental e a negativa disso é a negativa da vida real. Se exige muito que as pessoas estejam o tempo todo antenadas, sejam polivalentes, e se você admite estar ansioso, é como se você dissesse que não está dando conta, no senso comum. E falar do sofrimento mental causa desconforto", explica Ana Carolina.
"Os melhores tratamentos são combinados [terapia e medicamentos]", diz Henrique Bottura, psiquiatra colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele lembra que em alguns casos a ansiedade pode evoluir e apresentar complicações. "Depressão e ansiedade se falam muito. Uma pode evoluir para a outra", diz.
O que é?
A ansiedade estimula as ações do dia a dia. Em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações
Quando vira doença?
Existem diversos transtornos da ansiedade. Eles têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do cotidiano.
Principais transtornos
Fobia específica
Medo desproporcional a objetos e/ou situações como sangue, injeção ou voar de avião, por exemplo
Transtorno de ansiedade social
Medo desproporcional em relação a situações sociais (encontro com pessoas que não são familiares)
Agorafobia
Medo desproporcional em situações de uso de transporte público, espaços abertos ou lugares fechados
Transtorno de ansiedade generalizada
Medo desproporcional em diversos âmbitos da vida, como trabalho ou escola
Transtorno de pânico
Algumas pessoas têm ataques de pânico recorrentes. O transtorno de pânico é o medo de que esses ataques aconteçam, o que faz com que a pessoa acabe evitando situações ou mudando seu comportamento
Sintomas
Emocionais
• Sensação contínua de que um desastre vai acontecer
• Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho
• Medo extremo de algum objeto ou situação em particular Medo exagerado de ser humilhado publicamente
• Falta de controle sobre os pensamentos
• Preocupação excessiva
• Pensamentos acelerados
• Dificuldade de relaxar
• Irritabilidade
• Dificuldade de concentração
Físicos
• Suor excessivo
• Dificuldade de respirar
• Tonturas
• Aceleração dos batimentos cardíacos
• Tremores
• Enrijecimento muscular
Tratamento
• Medicamentos
• Psicoterapia
• Combinação dos dois tratamentos