Estimativas da Organização Mundial da Saúde sinalizam que haverá mais de 1,5 milhão de vidas perdidas por causa do suicídio em 2020, representando 2,4% de todas as mortes. O primeiro relatório global da entidade sobre o tema, divulgado na semana passada, aponta que uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos. No Brasil, foram 11,8 mil casos em 2012. No mundo, mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano e 75% delas são de países de baixa renda. Os números são preocupantes e não param de crescer, tanto que o dia 10 de setembro é dedicado para falar sobre o assunto. O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio pretende conscientizar a sociedade e o governo sobre a importância do tratamento de doenças mentais e problemas psicológicos, de falar sobre o tema e de quebrar o tabu que envolve o assunto.
"Diante desses dados é possível perceber a relevância na discussão desse tema que ainda é pouco difundido. Sabe-se que muitas pessoas que morrem por suicídio jamais contatam os serviços de saúde à procura de ajuda", frisa a psicóloga Mayara Camargo Cavalheiro, do Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento (PsicC) em Londrina. Um dia específico para o debate do tema, esclarecendo dúvidas e discutindo o tratamento é muito importante, acrescenta ela, principalmente porque o suicídio ainda é um tabu para a população no geral e também para os profissionais de saúde.
Segundo Mayara, levantamento do Datasus (banco de dados do Sistema Único de Saúde), aponta que os casos de suicídio são registrados como "mortes por lesões autoprovocadas voluntariamente". "Muitos acreditam que o fato de citar a palavra suicídio ou até mesmo discutir o assunto pode fazer com que mais pessoas o façam. Mas se não falarmos sobre o tema, teremos pouca informação e não conseguiremos ajudar ou intervir", afirma a psicóloga. Ela destaca ainda que outro fator que prejudica a discussão é a pressão social "para sermos felizes e satisfeitos", e não "permitindo" que se fale das angústias e aflições.
Os transtornos psiquiátricos são considerados os principais fatores de risco para que alguém acabe com a própria vida. De acordo com diversos estudos, cerca de 95% das pessoas que cometem suicídio apresentam diagnóstico de doença psiquiátrica. Segundo Mayara, diversas pesquisas indicam que a depressão está em primeiro lugar, seguida pela dependência de álcool e drogas e, em terceiro, a esquizofrenia. Porém, situações ambientais, como falecimento, dificuldades financeiras, dificuldades de adaptação, preocupações ou até mesmo casos de suicídio na família, podem ser razões decisivas. "Assim, podemos notar a influência do ambiente no comportamento suicida também", reforça.
A psicóloga destaca que, recentemente, aconteceram casos de suicídios de celebridades e que tomaram a atenção da mídia. A morte do ator americano Robin Willians foi uma delas. Neste caso, Mayara pontua que, de acordo com o que foi divulgado, alguns fatores o levaram a tirar a própria vida: a depressão, o alcoolismo, o diagnóstico de mal de Parkinson e o uso de drogas. "Sabe-se que o álcool é um depressor do sistema nervoso central e isso prejudica ainda mais os sintomas da depressão", frisa.
Sobre o tratamento, a profissional destaca que o acompanhamento psicológico associado ao acompanhamento médico é imprescindível. Embora não haja uma receita para o tratamento, segundo ela, deve ser priorizado o desenvolvimento de capacidades de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos.
Além disso, não há uma regra em relação à manifestação das pessoas que estão com pensamentos suicidas ou que pretendem fazê-lo. "Algumas pessoas comunicam seu sofrimento para outras e isso deve ser considerado. Muitas vezes, isso é um pedido de ajuda", observa Mayara, lembrando que há aquelas que não falam mas apresentam comportamentos indicativos. "A pessoa que tenta ou comete suicídio o faz, na maioria das vezes, porque não vê possibilidade de resolver seus problemas de outra forma e não porque gostaria de tirar sua própria vida", garante.
Segundo a OMS, a troca de informações sobre o suicídio pode evitar muitos casos. Nesse sentido, a família tem um papel muito importante e pode contribuir através de diálogo, apoio e esclarecendo dúvidas. Além disso, deve estar atenta à mudança de comportamento, sinais de irritação, desesperança e falas de nulidade, tais como a de que vida não vale a pena ou de que não serve para nada. Diante disso, a família deve procurar ajuda especializada, conclui a psicóloga.