Uma pesquisa feita pela aluna do doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Márcia Silva Oliveira avaliou o desenvolvimento da competência moral na formação do enfermeiro. Segundo a autora, o estudo se alinha com a perspectiva de um novo paradigma para a educação nas sociedades, trazendo a competência moral como elemento central para a sustentação da democracia, buscando contribuir com métodos que promovam agentes morais competentes, a mola propulsora do estado democrático. Nos resultados, a aluna evidencia a emergência de se dar o devido lugar do ensino da bioética laica nos currículos, com ênfase nos temas como direitos humanos, justiça e autonomia. A pesquisa insere-se no rol dos estudos em educação moral como o primeiro na América Latina acerca da formação de enfermeiros com a utilização do método de discussão de dilemas.
Márcia acrescenta que há necessidade de maior carga horária nos cursos de enfermagem, com professores qualificados e métodos que visem à promoção do pensamento crítico para formar agentes morais competentes. Em relação à população avaliada (alunos de enfermagem), o estudo detectou uma importante mudança, quando comparado aos estudos anteriores, observando-se que os grupos não apresentam regressão moral ao fim do curso e sim estagnação. Para chegar aos resultados, foram analisadas duas unidades de ensino superior da rede pública do Estado do Rio de Janeiro.
O estudo de desenvolvimento moral das profissões tem sido realizado mundialmente visando à reorganização do pensamento e a efetiva atuação do profissional como agente moral, assim como a introdução de novas ferramentas de ampliação da educação íntegra para promover o desenvolvimento da identidade técnica e a construção de uma sociedade onde o respeito mútuo vigore e a busca de soluções se efetive por meio do diálogo. O ensino da bioética evoca, conforme disse Márcia, o desafio da experiência humana de educar com o sentido de formação, o que envolve formar cidadãos. Na década de 1970, a bioética nasceu como uma alternativa ocidental para orientar a resolução dos conflitos e dilemas advindos dos efeitos do desenvolvimento tecnológico na vida humana. No Brasil, ela se sedimentou na formação com as diretrizes curriculares para o ensino superior de 2001 e afirmou-se como fundamental na capacitação de profissionais da área de saúde.
Nessa área, apontou Márcia, não somente as universidades, mas o próprio Sistema Único de Saúde é um espaço criado "a partir de" e "para" a razão comunicativa, espaços "colonizados" pela razão estratégica, pelo mundo dos sistemas, onde o dinheiro e o poder são os mecanismos de integração. "O descolamento do mercado dos valores morais, assim como a cultura de que "tudo está à venda", reflete nos indivíduos, nas relações interpessoais, tornando-se o ser humano um "meio" e não um "fim em si mesmo". Na medida em que aceitamos que tudo tem um preço e não um "valor", entramos na razão instrumental e o ser humano se torna mercadoria".