O paciente com Síndrome de Down deve ser avaliado por um oftalmologista periodicamente, mesmo que não se queixe. Quem faz o alerta é o oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Mario Jampaulo.
"Os portadores de Down, devido a modificação genética e tendência comportamental, apresentam uma série de patologias oftalmológicas que devem ser acompanhadas de perto por médicos", explica.
Amanhã, 21 de março, é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data é uma alusão à trissomia do cromossomo 21, grafada como 21/3, a qual provoca, entre outras características, a hipotonia muscular generalizada, fenda da pálpebra mais estreita, cardiopatia e a face característica (fissura palpebral oblíqua e epicanto).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que o Brasil tenha 300 mil pessoas com a Síndrome de Down.
O paciente com essa variação genética muitas vezes não identifica os problemas de visão. "Não raro, por não ter uma atividade social intensa, o portador de Síndrome de Down não percebe a baixa visão e, então, não frequenta os consultórios oftalmológicos", relata o médico. Ele conta que é comum pais e responsáveis só levarem esses pacientes ao oftalmologista quando há algum trauma ou sintoma perceptível como vermelhidão ou secreção nos olhos, já que a blefarite (inflamação das pálpebras) e obstrução das vias lacrimais são condições muito frequentes nas pessoas que detém esta variação genética. Contudo, não é aconselhável deixar chegar a este ponto para buscar orientação médica, adverte Jampaulo.
Refração – Segundo o especialista do HOB, problemas refrativos como miopia, hipermetropia e astigmatismo são frequentes em pacientes com Síndrome de Down. A própria formação do olho deste paciente facilita o desenvolvimento de dificuldades refrativas. Cerca de 50% deles têm dificuldade na visão para longe, e 20% na visão para perto, constata. "Os desvios oculares que caracterizam os estrabismos (exo e esotropias) bem como o nistagmo (movimentos involuntários dos olhos) também são comuns", completa.
Ceratocone – O aspecto comportamental do paciente com Síndrome de Down facilita o surgimento de patologias oculares, como o ceratocone. "Pacientes com essa variação genética costumam coçar os olhos com frequência e de forma agressiva. Quando chegam à idade de jovens adultos, é comum que já tenham desenvolvido ceratocone, uma alteração no formato e a espessura da córnea, deixando-a com o aspecto de um cone e diminuindo a quantidade e a qualidade da visão", conta o especialista do HOB.
O tratamento do ceratocone em pacientes com Síndrome de Down requer ainda mais cuidados do que o convencional. "Quando são submetidos a procedimentos cirúrgicos para tratar o ceratocone, quer seja com o transplante de córnea ou o implante de anéis intracorneanos, o portador de Down precisa ser monitorado mais atentamente para não retirar os curativos ou agredir o olho novamente", explica o oftalmologista do HOB.
Outra patologia frequente, resultado do hábito de coçar os olhos agressivamente é a hidropsia, uma ruptura da membrana de Descemet, que separa o humor aquoso da córnea, que faz o líquido fluir para dentro da córnea tornando-a esbranquiçada. Quando isso ocorre o paciente relata perda visual aguda e percebe-se um ponto branco opaco na córnea. O médico relata que caso a membrana de Descemet se regenere o edema e a opacificação diminuem.
Catarata – A formação sistêmica do paciente com Síndrome de Down favorece o envelhecimento precoce do corpo e permite o surgimento da catarata precoce nesses pacientes. "Pacientes com 30 anos de idade, portadores desta Síndrome, já podem apresentar sinais da catarata. Enquanto a população em geral só desenvolve a opacificação natural do cristalino a partir dos 50 ou 60 anos de idade", compara Jampaulo. A catarata congênita também acomete cerca de 3% dos pacientes com Down.
Cuidados – O especialista do HOB salienta que os cuidados oftalmológicos com os pacientes com essa modificação genética são mais intensos. "Os exames oftalmológicos dos pacientes com Down vão além do exame básico, uma vez que o profissional médico precisa avaliar melhor a córnea, a retina e realizar uma boa medida da pressão ocular", explica.