Corpo & Mente

Mulheres têm três vezes mais enxaqueca crônica que homens

30 mai 2014 às 09:23

As reclamações de dores muito intensas das mulheres que sofrem de migrânea crônica, popularmente conhecida como enxaqueca crônica, têm fundamento. Estudos mostram que elas sentem três vezes mais a dor pulsante que os homens e, ao contrário do que se imagina, a disfunção é muito comum, chegando a afetar cerca de 20% das mulheres e 5 a 10% dos homens.

Pessoas que sofrem com este tipo da doença sentem pelo menos 15 dias de dor de cabeça a cada mês, com duração de mais de quatro horas por dia, por mais de três meses, o que provoca um impacto não só na qualidade de vida, mas na produtividade do paciente. Um do tratamentos eficazes para o mal é a aplicação do BOTOX® (toxina botulínica) que reduz em 50% a frequência e a duração da dor de cabeça.


O medicamento bloqueia a liberação de neurotransmissores associados com a origem da dor. Para o médico Leandro Calia, neurologista do Hospital Albert Einstein, a ação inibe a sensibilização das fibras nervosas que conduzem à dor, o que diminui os sinais para o sistema nervoso central, reduzindo assim a frequência e intensidade das crises. "Os efeitos de BOTOX® no tratamento de migrânea crônica duram de 3 a 6 meses e, após este período, é preciso repetir o procedimento. Mas, para pacientes que sentem dor de cabeça intensa, este é um alívio muito grande porque permite recuperar a qualidade de vida e o prazer de vivenciar as atividades do dia a dia", complementa o médico.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca é uma doença altamente incapacitante, sendo classificada no mesmo grau que a demência e a tetraplegia. A vida de pessoas que convivem com a doença é profundamente afetada: é difícil estabelecer uma rotina normal, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. "A dor ocasiona não só ausências no trabalho. Durante as crises, o paciente não consegue realizar afazeres diários e, muitas vezes, se isola socialmente para suportar as dores. Estudos indicam que 58% dos pacientes que sofrem com a doença tem redução de produtividade no trabalho, e cerca dos 30% têm depressão, ansiedade e/ou dor crônica, além de outros tipos de migrânea", comenta o médico.


Desafio para a medicina


Existem mais de 150 tipos diferentes de dor de cabeça e a enxaqueca crônica é uma delas. Muitas vezes confundida pelo paciente como uma dor de cabeça simples, acaba sendo subdiagnosticada e subtratada. Uma crise típica pode ser reconhecida pela dor que envolve metade da cabeça, podendo piorar com qualquer atividade física e tendo associação à náusea e vômito.


Apesar de mais frequente nas mulheres, homens também sofrem muito com a disfunção e acredita-se que a origem desta condição seja multifatorial. Para ajudar na prevenção, fatores de desencadeamento da dor - estímulos capazes de determinar o surgimento de uma crise de enxaqueca nos indivíduos predispostos - devem ser conhecidos pelos pacientes para que possam obter um melhor controle da doença.


Entre eles estão:
- Alteração na rotina do sono (prolongado ou reduzido);
- Alto consumo de bebidas com cafeína, como chá e café, ou a privação da substância para quem consome grandes quantidades durante a semana e não repete a ingestão;
- Consumo de determinados alimentos e bebidas (variam de pessoa para pessoa);
- Jejum prolongado;
- Alterações hormonais, como no período menstrual;
- Estresse causado por diferentes motivos;
- Exposição a ruídos altos, odores fortes ou temperaturas elevadas;
- Mudanças súbitas de pressão atmosférica, como as provocadas por voos comerciais;

Para que a disfunção possa ser diagnosticada corretamente, o médico neurologista ou especialista em dor precisa ter detalhes sobre as crises. No momento da dor é importante que alguns dados como frequência, intensidade, localização e duração sejam anotados. Além disso, informações sobre medicamentos utilizados, fatores desencadeadores, hábitos alimentares, atividade física, sono e a relação das crises com a luminosidade, sons, odores e clima também serão avaliados pelo médico.


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