Corpo & Mente

Mamografia não aumenta o risco de câncer na tireoide, diz especialista

21 out 2016 às 10:32

Todo mês de outubro, o movimento Outubro Rosa chama atenção para a realidade atual do câncer de mama e para a importância do diagnóstico precoce pelo mundo. A campanha divulga a importância da luta contra o câncer que mais mata mulheres em todo o mundo.

Neste ano, no entanto, as mulheres foram aterrorizadas por um vídeo enviado via WhatsApp, e que também circula no Facebook, no qual uma mulher não identificada diz que os casos de câncer de tireoide em mulheres estariam aumentando devido à realização de mamografias e radiografias odontológicas. A mesma mulher também critica os profissionais de saúde que fazem esses exames por não oferecerem aos pacientes protetores de chumbo para a garganta, parte do corpo que abriga a glândula tireoide.


Diante da polêmica surgida nas redes sociais e das dúvidas das mulheres se deveriam ou não fazer a mamografia preventiva, o Portal EBC conversou com o médico epidemiologista do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde do INCA, Arn Migowski. Para Migowski, a mamografia é um exame muito seguro, mas não deve ser banalizada, sob o risco de favorecer o desenvolvimento de um câncer na mama. O médico também diz as mamografias não aumentam o risco de câncer na tireoide.


1) Mamografia aumenta o risco de câncer na tireoide?


Não. Isso é um mito. A dose de radiação que atinge a glândula tireoide durante a realização da mamografia é desprezível. A radiação da mamografia, apesar de muito baixa, deve ser controlada e monitorada e deve-se evitar o excesso desnecessário de mamografias de rotina, como ocorre em mulheres saudáveis que começam a ser rastreadas anualmente aos 40 anos ou antes, pois pode aumentar um pouco o risco de desenvolvimento do câncer de mama. Essa prática é muito comum no Brasil. A mamografia é um exame muito seguro, mas não deve ser banalizado.


2) O número de casos de câncer na tireóide aumentou? Quais são os fatores de risco para este tipo de câncer?


A incidência do câncer de tireoide vem aumentando. A principal causa é a prática de realizar check-up, ou seja, exames de rotina em pessoas assintomáticas. Dessa forma são descobertos cânceres que nunca dariam sintomas nem muito menos ameaçariam a vida da pessoa. Isso se chama sobrediagnóstico. Esse excesso de casos de câncer é geralmente tratado com cirurgia para retirada total ou parcial da tireoide. Esse excesso de tratamento desnecessário se chama sobretratamento. A única maneira eficaz de se diminuir o sobrediagnóstico e o sobretratamento do câncer de tireoide é deixando de se praticar exames de rotina (check-up) para esse câncer.


Nas últimas duas décadas, a disseminação da prática check-up com ultrassonografia de tireoide e punção por agulha não diminuiu a mortalidade por câncer de tireoide, mas aumentou em 15 vezes o número de casos diagnosticados na Coreia do Sul e dobrou esse número em países como EUA, Canadá, França, Itália, Austrália, China, Croácia, República Tcheca e Israel.


3) Por que o protetor para a tireoide não é oferecido espontaneamente pelos técnicos durante o exame?


Por não ser necessário.


4) O protetor pode prejudicar o resultado do exame? De que forma?


Sim, pode prejudicar gerando sobreposição ou dificultando o posicionamento. Isso pode gerar a necessidade de novas mamografias e isso sim aumenta desnecessariamente a dose de radiação para a mama.

5) Qual o conselho que você deixa para as mulheres nesse outubro rosa?


Evitem o excesso de exames de check-up. Eles trazem riscos à saúde e geralmente não trazem benefícios. O check-up para câncer de tireoide não deve ser feito. A mamografia de rotina, para rastreamento de câncer de mama, é indicada para mulheres assintomáticas (sem sinais e sintomas da doença) com idades entre 50 e 69 anos, uma vez a cada dois anos, diante de uma decisão consciente da mulher. Começar a fazer check-up com mamografia antes dessa idade ou fazê-lo mais frequentemente aumenta muito os riscos para a saúde da mulher e muito provavelmente não trará benefício. Os riscos que aumentam são de resultados errados da mamografia, de excesso de exames, de exposição desnecessária à radiação ionizante, de excesso de diagnóstico de câncer e de excesso de tratamento para câncer.


É fundamental que as mulheres de qualquer faixa etária conheçam bem suas mamas, para que saibam identificar suas variações normais e reconhecer os sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama. Caso percebam alterações suspeitas, a mulher deve procurar o serviço de saúde o quanto antes. Os sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são: caroço (nódulo) persistente, geralmente indolor; pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja; alterações no bico do peito (mamilo); pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço; e saída de líquido anormal pelo mamilo.


É importante também lembrar que cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de práticas como a manutenção do peso corporal adequado, alimentação saudável, prática regular de atividade física e evitar o consumo de bebidas alcoólicas. A amamentação é também um fator protetor e deve ser estimulada.


Movimento Outubro Rosa


O nome remete à cor do laço que simboliza mundialmente a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, empresas e entidades.O movimento teve início nos EUA, onde vários estados tinham ações voltadas à prevenção do câncer de mama no mês de outubro, principalmente a partir da década de 1990.

Para sensibilizar a população e estimular o diagnóstico precoce, as cidades se enfeitavam com os laços rosas, principalmente nos locais públicos, mas depois surgiram outras ações como corridas, desfiles e etc. A ação de iluminar de rosa monumentos, prédios públicos, pontes e teatros surgiu posteriormente e não há uma informação oficial de como, quando e onde foi efetuada a primeira iluminação. Neste ano, no Rio, dentre outros pontos, estão iluminados de rosa o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o prédio da Petrobrás e a Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, e, em Brasília, o Congresso Nacional, o Ministério da Justiça e o Palácio do Planalto, entre outros.


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