Assim como os testes de Apgar, do Olhinho, do Pezinho e da Orelhinha, a proposta do Teste da Linguinha e seu diagnóstico precoce é semelhante: diagnosticar precocemente para resolver o problema evitando consequências futuras.
As alterações do frênulo da língua podem comprometer o desenvolvimento de qualquer pessoa, mesmo na fase adulta. Nos recém-nascidos, essas limitações dos movimentos da língua podem comprometer funções importantes nos primeiros meses, sobretudo durante o período de amamentação, sendo uma das principais causas do desmame precoce. O Teste da Linguinha será apresentado pela criadora do exame, a fonoaudióloga Roberta Martinelli, durante o XX Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, que acontece de 30 de outubro a 03 de novembro, em Brasília (DF).
Este é um protocolo para diagnosticar em bebês a presença da língua presa e o grau de limitação dos movimentos causado por ela, que pode comprometer as funções de sugar, engolir, mastigar e falar. O teste da linguinha é eficaz, rápido e não dói", diz Roberta Martinelli, autora do estudo pioneiro do método aplicado única e exclusivamente na cidade de Brotas, no interior de São Paulo (SP) e membro da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa).
O Teste
Inicialmente, o teste avalia o frênulo do bebê e, em seguida, é observada a maneira como o bebê mama na mãe. A fonoaudióloga filma tudo para examinar melhor posteriormente. Se necessário, a criança é encaminhada para procedimento cirúrgico.
O objetivo do Teste da Linguinha é detectar a língua presa em todos os bebês gratuitamente. "Fiz a opção de realizar o teste da linguinha no serviço público, exatamente para ser acessível a toda a população", finaliza a fonoaudióloga.
O Frênulo lingual possibilita ou interfere na livre movimentação da língua. Quando não ocorre a apoptose completa do frênulo, durante o desenvolvimento embrionário, o tecido residual que permanece pode limitar os movimentos da língua em graus variados e interferir nas funções orofaciais.
Uma vez que essa alteração tem influência genética, quando for diagnosticada em um membro de uma família, é fundamental pesquisá-la tanto entre os parentes diretos como nos demais.
Até 1940, a língua presa era rotineiramente cortada pelas parteiras. Essa realidade foi modificada pelo medo excessivo de realizar uma cirurgia desnecessária e pela redução na prática da amamentação. Na década de 90, novamente o incentivo à amamentação trouxe à tona a polêmica sobre a língua presa e sua interferência na maneira de sugar, mastigar e falar.
Muitas pessoas com alteração de frênulo lingual sofrem com as consequências dessa alteração sem saber a causa. Além das dificuldades durante a amamentação, o que causa estresse para a mãe e o bebê, há ainda problemas para mastigar, engolir, tomar sorvete, falar com distorção, interferências na comunicação e no relacionamento social, como no ato de beijar.
Antigamente, o diagnóstico da alteração do frênulo era realizado apenas por inspeção visual. Atualmente, com as recentes pesquisas, o diagnóstico e avaliação da língua presa podem ser feitas por profissionais qualificados e informados. No entanto, ainda hoje, alguns profissionais permanecem com o discurso de que língua presa não existe, que não afeta a amamentação, que vai corrigir-se sozinha, esticar ou rasgar sem tratamento, que não causa desconforto para a mãe e que não afeta a fala.
Embora não existam estudos epidemiológicos recentes para estimar o número de
pessoas que têm a língua presa, uma pesquisa da Universidade de Cincinnati, EUA, publicada em 2002, constatou que cerca de 16% dos bebês com dificuldades com a amamentação tinham a língua presa.
Outro estudo realizado, em 2004, no Hospital Geral de Southampton, no Reino Unido, constatou que 10% dos bebês nascidos na área tinha a língua presa. Para que a incidência possa ser estimada com precisão é necessário haver critérios para o diagnóstico da língua presa, uma vez que os números reais podem ser surpreendentemente maiores do que o esperado.