A Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus - Sars-Cov-2 -, é uma doença que se espalha por diversos órgãos, além do sistema respiratório.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, um desse órgãos é o olho, que pode sofrer várias alterações e funcionar como a porta de entrada do vírus no sistema respiratório, através do ducto lacrimal que liga o globo ocular ao nariz.
O oftalmologista comenta que um levantamento da AAO (Academia Americana de Oftalmologia) mostra que não é comum o coronavírus provocar conjuntivite, mas a lágrima passa a transmitir a Covid-19 quando a infecção chega à conjuntiva, membrana que recobre a esclera (parte branca do olho) e a face interna das pálpebras.
Pesquisas
A transmissão do novo coronavírus pelas lágrimas é revelada por uma pesquisa realizada no Centro Nacional de Doenças Infecciosas do Hospital Tan Tock Seng, em Cingapura.
Participaram do levantamento 17 pessoas com Covid-19 que tiveram o filme lacrimal analisado 64 vezes no período de três semanas. O único participante que desenvolveu conjuntivite também apresentou coronavírus na lágrima.
Outra pesquisa desenvolvida na Itália por cientistas do Inmi (Instituto Nacional para Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani) confirma este resultado pela análise de amostras da lágrima de um paciente com Covid-19 e conjuntivite nos dois olhos. Os cientistas destacam que o coronavírus teve uma sobrevida de 27 dias no filme lacrimal, contra 21 dias na secreção nasal.
Esses apontamentos mostram que a lágrima pode continuar transmitindo a Covid-19 mesmo quando já não há sintomas da infecção. Por isso, Queiroz Neto recomenda a quem contrai Covid-19 e desenvolve conjuntivite evitar o compartilhamento de colírios, toalhas, fronhas e maquiagem, inclusive após a cura.
Uma terceira pesquisa realizada na John Hopkins University School of Medicine, nos Estados Unidos, analisou o filme lacrimal de 10 pessoas levadas à morte pela Covid-19 que também apresentaram conjuntivite.
O estudo revela presença na lágrima de grande quantidade de duas enzimas que facilitam a entrada do coronavírus no organismo. Uma delas é a ACE2 e a outra a TMPRSS2. "Isso explica porque as mãos devem ser higienizadas com frequência e não serem levadas aos olhos, nariz ou boca, que são as principais portas de entrada do coronavírus”, afirma Queiroz Neto.
Para ele, essas pesquisas reforçam a indicação preconizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) do uso de óculos de proteção aos profissionais da saúde, além da máscara e luvas a toda a população.
Desgaste das lentes
O oftalmologista afirma que, por precaução, pessoas com Covid-19 devem substituir a lente de contato por óculos. Isso porque, explica, além do desconforto, o coronavírus pode antecipar o prazo de validade das lentes por causar a quebra mais rápida do filme lacrimal, e formação de depósitos que alteram sua textura, coloração e transparência.
Durante a pandemia os principais cuidados com lente de contato indicados pelo médico são respeitar o prazo de validade, interromper o uso a qualquer desconforto, sempre lavar as mãos antes de manipular as lentes, lavar e enxaguar tanto as lentes como o estojo com solução apropriada e jamais dormir usando lente de contato.