O avanço da ciência tem aberto novos caminhos para o entendimento de como o organismo humano funciona em condições normais de equilíbrio e o que acontece quando este equilíbrio é rompido na doença.
A comprovação de existência de uma sofisticada interação entre o sistema imunológico e o cérebro é uma dessas novas perspectivas. Mesmo que sugerido já em meados dos anos 30 do século passado, a consolidação do conceito de ações bidirecionais entre sistema imunológico e o cérebro é relativamente recente.
Por exemplo, quando um agente agressor (bactéria ou vírus) é reconhecido pelo sistema imunológico, este desencadeia uma série de reações, culminando com a liberação de várias substâncias no sangue a fim de combater a ameaça.
Algumas destas substâncias podem atuar no cérebro prejudicando suas funções. No sentido inverso, estímulos físicos ou psíquicos, mediados pelo sistema nervoso central, podem induzir a liberação de substâncias neurotransmissoras e hormônios que vão atuar sobre o sistema imune reduzindo sua capacidade de resposta.
Isto explica, pelo menos em parte, como um estresse pode desencadear uma doença infecciosa ou mesmo o câncer, ambos modulados pelo sistema imunológico. A atividade mental é composta pela percepção, pelas ações planejadas e pelo pensamento e é originada da interconexão de circuitos complexos de células nervosas.
Esta atividade mental determina nossa capacidade de adquirir conhecimento (cognição), o que caracteriza nossa inteligência. Este processo pode ser afetado pela resposta do sistema imune a um agente agressor em uma infecção. É o que demonstra um grupo de pesquisadores dinamarqueses em um estudo publicado recentemente na revista científica PLOS ONE.
Utilizando registros de saúde da Dinamarca foi desenvolvida uma pesquisa que investigou o efeito de diferentes tipos de infecção ocorridas do nascimento até o final da adolescência em uma amostra de mais de 190 mil indivíduos do sexo masculino nascidos entre 1976 e 1994. A história de infecção foi definida como "a pessoa tendo sido registrada com um diagnóstico de infecção" no sistema de registro hospitalar da Dinamarca.
As habilidades cognitivas foram medidas de 2006 a 2012 por um teste de inteligência convertido para uma escala de quociente de inteligência (QI) convencional. Os indivíduos tinham em torno de 19 anos quando se submeteram ao teste.
Para detectar se possíveis efeitos independentes da infecção (como a educação dos pais, idade da mãe durante a gestação, o peso do indivíduo ao nascer, etc.) estavam afetando a cognição, foi empregado um modelo de ajustamento para outros fatores, evitando desta forma erros produzidos por fatores confundidores.
O estudo indica que infecções prévias foram significativamente associadas a uma redução da habilidade cognitiva. O efeito foi maior quanto mais recente e mais severa foi a infecção. Uma das explicações sugeridas para estes resultados é que a resposta imunológica ao agente agressor tenha causado algum tipo de dano ao cérebro, o que causou a redução da habilidade cognitiva. Este efeito pode ser transitório.
(com informações do site ABC da Saúde)