Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 70% das mulheres terão contato com o vírus do HPV em algum momento de suas vidas. E de acordo com estudos internacionais a prevalência da infecção por HPV é maior na fase reprodutiva da mulher, entre os 16 e 30 anos.
Isso porque o vírus tem mais facilidade em penetrar na região do colo quando há maior produção de hormônios. O grande problema é que os tratamentos para tratar essas infecções podem elevar as chances de parto prematuro, aborto espontâneo e até infertilidade nas mulheres.
O assunto será tema de discussão entre os principais especialistas em saúde feminina do país durante o XVII Congresso Brasileiro de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, que acontece 12 a 15 de novembro, em Belo Horizonte.
O médico ginecologista Garibalde Mortoza Junior, presidente da ABPTIC, explica que as lesões causadas pelo vírus podem ser de baixo ou alto grau e, apesar de em grande parte serem benignas, devem ser tratadas, quando necessário, para evitar o seu desenvolvimento. Na maioria das vezes, o corpo elimina naturalmente o vírus, mas quando isso não acontece, é necessário aplicar o tratamento conforme a gravidade da lesão.
"Nos casos mais leves quando se utiliza a cauterização, pode haver problemas, mais raramente, mas quando há lesões mais severas, é necessário retirar uma parte do tecido o que pode deixar o colo uterino mais frágil. Assim, quando a mulher engravida, o tecido não tem força para segurar o feto, quando acontecem os nascimentos pré-termos ou a perda da gravidez".
O médico alerta para outra constatação: a reação inflamatória também pode atrapalhar a concepção. "Essa dificuldade é mais frequente do que se imagina, até 20% das pacientes têm a fertilidade prejudicada por causa das infecções e seus tratamentos", comenta.
Tudo isso poderia ser facilmente evitado com uma medida simples que é a vacinação para prevenir o HPV. A eficiência e segurança da imunização já foi amplamente discutida e comprovada, inclusive pelo governo que incorporou recentemente a imunização para meninas de 11 a 13 anos no Plano Nacional de Imunização.
"Muito se fala em vacinação para as meninas, o que é essencial, porque quanto mais cedo iniciar a prevenção, maiores são as chances de evitar as lesões do colo e todas as suas consequências, mas é preciso alertar para a importância de orientar também a mulher adulta".
Garibalde Mortoza lembra que há o grande número de mulheres na fase adulta hoje que não tiveram acesso à proteção quando adolescentes. Além disso, ela chama atenção para a exposição do vírus, que ainda é grande após os 26 anos e volta a aumentar entre 35 e 40 anos. Quanto maior e mais longa a exposição ao HPV, especialmente aos subtipos oncogênicos, mais graves e mais difíceis de serem tratadas são as lesões.
Há ainda outra justificativa, a possibilidade de reinfecção: estudos apontam que metade das mulheres que entram em contato com o vírus naturalmente não produzem resposta imunológica para combatê-lo, o que significa que podem vir a se infectar por outros tipos do mesmo vírus. Já na outra metade que produz a proteção natural, o nível de anticorpos produzidos são baixos e não garantem proteção contra novas infecções.
"Isso acontece porque a atuação do vírus é local, não entra na corrente sanguínea. Já a vacina age diretamente na corrente sanguínea, oferecendo uma proteção de quase 100% para os tipos a que se destina", reforça.
Aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras de HPV, sendo 32% infectadas pelos tipos 16 e 18 ou ambos, principais causadores do câncer do colo do útero.