A incidência de tipos de câncer relacionados à obesidade tem gerado preocupação ao Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), que fez hoje (27) um alerta durante a divulgação das estimativas de novos casos para os próximos dois anos no Brasil.
Apesar de não poder fazer uma comparação com os anos anteriores, por mudanças na metodologia e na base de dados, o vice-diretor-geral do Inca, Luiz Felipe Ribeiro, informou que há uma tendência de crescimento em casos como o câncer de próstata, que é associado à obesidade.
"Um exemplo é o tumor de corpo de útero, que também é associado à obesidade e não entrava nem entre os dez tumores mais incidentes do Brasil. Na última estimativa, estava em oitavo, e, nessa, apareceu em quinto", destacou Luiz Felipe. "Está nos preocupando o crescimento rápido dos tumores ligados à obesidade".
Segundo a estimativa, quase 14 mil casos de câncer de corpo de útero devem ser registrados no país nos próximos dois anos. Outros tipos de câncer, como o de ovário e o cólon-retal, também estão relacionados ao excesso de peso e têm subido posições entre os mais frequentes no país.
Técnica da Divisão de Informação do Inca, Marceli de Oliveira Santos afirmou que o estilo de vida urbano e sedentário, que contribui para a obesidade, principalmente no Sul e Sudeste, pode ser claramente associado ao câncer de cólon e reto. "Ele assume uma posição relevante quando trabalhamos em um ambiente em que o desenvolvimento e a urbanização são mais evidentes."
Se excluído o câncer de pele sem melanoma, a incidência de câncer de cólon e reto no Sudeste é a segunda maior entre homens, com 24,27 casos para cada 100 mil habitantes. No Norte do país, a incidência desse mesmo tipo de câncer é de 5,34 por 100 mil habitantes, e, no Nordeste, de 7,05.
Entre as mulheres, o câncer de cólon e reto é o segundo mais frequente no país, também desconsiderados os de pele não melanoma. Enquanto as regiões Sul e Sudeste têm uma incidência maior que 20 casos por 100 mil habitantes, no Norte são 5,89 casos.
Para o vice-diretor-geral do Inca, é preciso levar o tema para as escolas e impedir que os adolescentes adquiram hábitos alimentares pouco saudáveis e o sedentarismo. "Temos de trazer a temática câncer para capacitação dos professores de ensinos médio e fundamental. Os hábitos nocivos que se instalam na adolescência têm de ser combatidos desde cedo."
O consumo de carne vermelha e embutidos e os excessos no consumo de álcool são outros fatores que preocupam o instituto. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil já se enquadra entre os países com consumo de álcool médio, com 8,4 litros de álcool puro por pessoa a cada ano. Junto com o tabagismo, o consumo excessivo de álcool tem um fator multiplicativo em casos de câncer, entre eles o de cavidade oral.
Ribeiro acrescentou que o crescimento dos casos de câncer exigirá cada vez mais recursos para os tratamentos, que custam muito mais caro que a prevenção. "Os custos do Ministério da Saúde com oncologia cresceram 45% em quatro anos, chegando a R$ 3,3 bilhões".
Uma tendência que o Inca considera positiva é a queda da mortalidade nos casos de câncer de pulmão, que está relacionada à redução do número de fumantes no país. Entre 1990 e 2013, a população masculina de fumantes caiu de quase 45% para menos de 20%. A feminina, reduziu de pouco mais de 25% para pouco mais de 10%.
"Isso não é fácil. Foi uma construção interministerial da sociedade em que diversos cenários tiveram de ser construídos. Tivemos de construir isso como sociedade. Seria impossível se não fosse uma luta de toda a sociedade. Temos esse programa como modelo para enfrentar os demais desafios."