Corpo & Mente

Inalação de fumaça dificulta tratamento de queimados

01 fev 2013 às 14:33

De acordo com a cirurgiã plástica Maria da Graça Figueira Costa, responsável técnica pela Unidade de Queimados do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, onde estão internadas sete vítimas do incêndio, o fato de os pacientes terem que ficar permanentemente ligados aos respiradores e não poderem deixar a Unidades de Terapia Intensiva dificulta as intervenções cirúrgicas necessárias para o tratamento de queimaduras externas.

"Os pacientes ficam instáveis, têm que ficar no respirador, alguns estão fazendo diálise. (Os problemas respiratórios) comprometem todo o organismo", diz a médica. "Alguns pacientes não podem nem ir ao bloco cirúrgico de queimados, não podem sair da UTI, e nós temos que tentar fazer as cirurgias lá mesmo, para não atrasar (o tratamento)."


A cirurgia avalia que a existência de lesões respiratórios aumenta o risco de morte. "Isso aumenta muito (o risco) de mortalidade, porque esse material que queimou libera muitas substâncias químicas que são tóxicas para o pulmão e para as vias respiratórias, o que agrava toda a patologia", diz Maria da Graça.


Na última segunda-feira, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que cerca de 20% das vítimas do incêndio sofreram com grandes queimaduras. Para tratar desses pacientes, bancos de pele de São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e até de outros países foram deixados de prontidão.


Ainda na segunda-feira, o governo da Argentina anunciou o envio de 10 mil cm² de pele e 20 mil cm² de membranas para ajudar as vítimas de queimaduras no incêndio.


Tratamento


O tratamento dos chamados grandes queimados, pacientes que têm extensões significativas do corpo atingidas pelo fogo, é complexo e pode se estender por meses.


Em um primeiro momento, são realizadas cirurgias para retirada do tecido necrosado que foi atingido pelo fogo, o chamado processo de desbridamento.


"Muitas vezes não é possível tirar tudo de uma vez só, porque sangra muito", afirma Maria da Graça. "Então as cirurgias têm que ser feitas de maneira sequencial, fazemos uma ou duas vezes por semana."


Durante esse processo, as áreas lesionadas são cobertas com curativos especiais ou com a pele de cadáveres vinda de bancos de tecido. O procedimento evita que o paciente se desidrate e protege o ferimento. Esta pele, no entanto, é um curativo temporário, que deve ser trocado a cada semana.


O tratamento prossegue até que o paciente comece a desenvolver tecido saudável nas partes atingidas, o que - no caso dos grandes queimados - leva no mínimo um mês, de acordo a médica. Inicia-se então o procedimento de enxerto de pele do próprio paciente, o que cobrirá definitivamente as áreas afetadas.


Segundo Maria da Graça Figueira da Costa, no entanto, o tratamento dos grandes queimados se estende para além da área cirúrgica. Depois das intervenções, o paciente segue para o atendimento ambulatorial.


Em geral, é necessário ainda acompanhamento psicológico, fisioterapia e tratamento fonaudiológico para aqueles que ficaram entubados por longos períodos.


Vítimas


De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, 127 vítimas permaneciam internadas até a noite de quinta-feira por conta do incêndio que matou mais de 230 pessoas na madrugada do último domingo em uma casa noturna da cidade de Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul .


Deste total, 71 pessoas estavam respirando com a ajuda de aparelhos e em estado crítico. Há pacientes internados em Santa Maria, na região metropolitana de Porto Alegre, além de Ijuí e Caxias do Sul.


Na madrugada desta sexta-feira, um hospital em Porto Alegre confirmou a morte de um jovem que estava internado no local por conta da tragédia. O jovem de 20 anos é a 236ª morte confirmada após o incêndio na boate Kiss.

As autoridades vêm alertando àquelas pessoas que tiveram contato com a fumaça tóxica do incêndio que procurem os hospitais devido ao risco de desenvolvimento de condições respiratórias graves.


Continue lendo