O Hospital Colônia Adauto Botelho (HCAB), em Pinhais, tem intensificado desde o ano passado a busca por familiares de pacientes remanescentes do período em que a unidade era um manicômio. O trabalho é coordenado pelo setor de Serviço Social, que nesta segunda-feira (23) promoveu mais um encontro. Desta vez, mãe e filha que não se viam há 43 anos.
Dona Angelina Gonçalves Freitas está internada no Adauto Botelho desde 1993. Ela sofre de distúrbios mentais crônicos e tem dependência funcional. Prontuários da época apontam que a paciente foi encaminhada do Hospital Nossa Senhora da Glória (Curitiba), que já estava em processo de fechamento. Estima-se que ela tenha hoje 64 anos e esteja fora do convívio familiar desde 1971, quando morava em Pérola, no Noroeste do Estado.
A filha de Angelina, Dora de Freitas Echevarria, conta que tinha quatro anos quando se separou da mãe. Ela e o irmão, Hugo de Freitas Echevarria, passaram por diversos orfanatos até serem adotados por famílias diferentes quando ela tinha 12 anos. Desde então, Dora também não tem contato com o irmão. "Não tinha mais esperanças de encontrar a minha mãe e por isso concentrava meus esforços na procura pelo Hugo. Foi realmente um milagre encontrá-la e agora sou eternamente grata a essa equipe do hospital", contou.
O reencontro desta segunda-feira só foi possível graças à implantação do projeto terapêutico singular na Unidade Assistida do Hospital Colônia Adauto Botelho. A intenção é resgatar todo o histórico dos pacientes asilados, através de prontuários antigos e relatos de funcionários, e estabelecer um programa especial de tratamento para cada um deles.
BUSCA – No caso de dona Angelina, a identificação da família ocorreu porque a paciente mencionou o nome de seus filhos em momentos de lucidez, em 1993 e 2008. "Com essas informações, registradas no prontuário, nossa equipe fez buscas pela internet e constatou que Dora estava procurando seu irmão em um site de pessoas desaparecidas", explicou a assistente social do Hospital, Ana Cristina de Carvalho Brito.
Cruzando dados da internet com informações do cartão SUS, a equipe do hospital entrou em contato com Dora, que prontamente aceitou realizar o teste de DNA. O resultado do exame deu positivo e agora a filha pretende levar sua mãe para casa.
OUTROS PACIENTES – Além de Angelina, a Unidade Assistida conta ainda com mais 17 pacientes asilados. Dois deles têm famílias identificadas, mas os outros 15 ainda não têm qualquer vínculo externo estabelecido. Por isso, o hospital continua à procura de pessoas que tenham algum grau de parentesco com esses pacientes.
Em novembro de 2014, foi a vez da paciente Enedina Motta, 99 anos, reencontrar a família após 53 anos. Ela ficou internada no hospital entre 1980 e dezembro de 2014, quando recebeu alta. "O que queremos é encontrar a família de todos e, se possível, devolvê-los a um ambiente familiar. São pacientes que estão conosco há mais de 30 anos e sabemos que esse reencontro é extremamente importante para eles", destacou o diretor-geral do Hospital, Osvaldo Tchaikovski Júnior.
De acordo com Tchaikovski, o trabalho de busca pelos familiares destes pacientes foi ampliado por conta da recomposição do quadro de servidores do hospital. "No ano passado foram incorporados 54 novos profissionais à equipe, o que permitiu que qualificássemos o atendimento e fizéssemos algo mais por nossos pacientes", disse. Atualmente, 204 servidores atuam na unidade.
SERVIÇO – Quem tiver algum parente com histórico de transtorno mental e que tenha desaparecido há mais de 20 anos pode entrar em contato com o hospital para verificar se o familiar não está internado na Unidade Assistida. O telefone para contato é (41) 3661-6600.