O tabagismo passivo é caracterizado como a inalação de fumaça de derivados do cigarro por indivíduos que não fumam, mas que convivem com fumantes em ambientes fechados. Denominada PTA (Poluição Tabagística Ambiental), a poluição proveniente da fumaça de cigarros é, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a terceira maior causa de morte evitável em todo o mundo.
De acordo com Liliane Shimizu, pneumologista do Hospital Evangélico de Londrina, fumantes passivos têm maior risco de desenvolver doenças relacionadas ao tabagismo quando comparados às pessoas que não têm contato com a fumaça do cigarro em ambientes fechados. "Quanto maior é o período de tempo em que o não fumante fica exposto à PTA, maiores são as chances de adoecer", explica.
A especialista aponta que, a curto prazo, o tabagismo passivo pode trazer reações alérgicas aos pacientes, como tosse, rinite e até conjuntivite. No entanto, os efeitos mais graves podem ser observados a longo prazo, quando aumentam as chances de infarto agudo do miocárdio, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica.
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"Crianças e bebês são particularmente mais suscetíveis ao tabagismo passivo, já que possuem risco aumentado de desenvolver doenças respiratórias, doença do ouvido médio e síndrome da morte súbita infantil. Mulheres grávidas expostas ao tabagismo passivo correm maior risco de natimorte, malformações congênitas e feto com baixo peso ao nascer", afirma Shimizu.
Coronavírus
No início da pandemia de Covid-19, um estudo francês levantou a hipótese de que a nicotina poderia ter papel 'protetor' na infecção pelo novo coronavírus. "O estudo afirmava que, em pacientes internados em alguns serviços de saúde da China, a prevalência do tabagismo era menor do que na população geral. Mas essa conclusão deve ser vista com muita cautela", alerta a especialista.
Conforme explica Shimizu, a pesquisa é uma notícia falsa. Isso porque os autores do estudo já haviam trabalhado diretamente para a indústria tabagista e, por isso, tinham interesses com a divulgação dos falsos resultados.
"Os fumantes têm risco de complicação da Covid-19 45% maior do que os não-fumantes. A mortalidade da doença para quem fuma cigarros chega a ser 38% maior", explica.
Apesar de não existirem dados que correlacionem fumantes passivos e maiores riscos de complicações da Covid-19, a pneumologista aponta que pessoas que não fumam, mas que moram ou convivem com fumantes, também sofrem agressões pulmonares, o que as tornam mais vulneráveis a infecções respiratórias, como a Covid-19.
A fumaça de cigarros contém mais de cinco mil compostos e substâncias químicas. Pesquisas nacionais e internacionais indicam que, pelo menos, 50 desses compostos podem provocar câncer em fumantes ativos e passivos. "Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo. A única maneira de proteger adequadamente fumantes e não-fumantes é eliminar completamente o tabagismo em ambientes fechados."
Conforme comenta Shimizu, o distanciamento social pode ser encarado como um momento de ansiedade, estresse e angústia, o que pode causar aumento no consumo de cigarros por fumantes. Apesar das dificuldades, a especialista aconselha que o momento seja tido como um estímulo para o cuidado com a saúde. "Além de evitar aglomerações, lavar as mãos com água e sabão e usar álcool em gel, parar de fumar é uma importante atitude para prevenir complicações do novo coronavírus", finaliza.
*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.