Estudo realizado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, relacionou pela primeira vez defeitos no sêmen masculino com outros problemas de saúde. Depois de analisar as causas da infertilidade de mais de nove mil homens, pesquisadores perceberam forte correlação entre a baixa qualidade do sêmen e um aumento das chances de sofrer de hipertensão, doenças de pele ou endocrinológicas.
Publicado no Jornal Fertility and Sterility, o estudo revela que metade dos casos de infertilidade conjugal se deve a deficiências seminais. "Precisamos prestar mais atenção a esses milhares de homens. A infertilidade é um alerta para outros problemas de saúde em geral", diz o professor Michael Eisenberg, que conduziu o estudo.
O médico norte-americano também conduziu outro estudo há poucos anos relacionando a infertilidade masculina com taxas maiores de mortalidade – principalmente relacionadas a doenças do coração. "Neste estudo recente, estamos detectando evidências de possíveis problemas de saúde em homens jovens".
Ao avaliar cerca de 9,3 mil homens com idade média de 38 anos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que em metade dos casos a causa da infertilidade masculina se deve a problemas relacionados ao volume, concentração e motilidade do sêmen. Em 44% dos casos, os pacientes também apresentavam problemas adicionais de saúde, em sua maioria relacionados ao sistema circulatório, principalmente hipertensão, doença vascular e do coração – mas também problemas de pele e do metabolismo.
"Como há muitos homens com hipertensão, compreender essa correlação com a infertilidade é de grande interesse para nós", diz Eisenberg – acenando para novas linhas de estudo.
O pesquisador ressaltou que 15% de todos os genes do genoma humano estão conectados com a reprodução e muitos deles têm também funções diversas no organismo. Sendo assim, não apenas uma doença pode estar relacionada à infertilidade, como também o tratamento de determinada doença pode ser responsável por problemas reprodutivos.
"A saúde masculina está diretamente ligada à qualidade do sêmen. Por isso, cada vez mais precisamos analisar essa correlação detidamente. Em vários casos, ao buscar ajuda numa clínica especializada em tratamento de infertilidade, o homem tem oportunidade de tratar de outras condições para melhorar sua saúde em geral", diz o especialista.
No Brasil, o primeiro estudo do gênero foi realizado pelo Instituto Sapientiae, braço acadêmico do Fertility Medical Group. A análise de 2.300 amostras de sêmen fornecidas por pacientes que recorreram ao tratamento de fertilização assistida nos períodos de 2000-2002 e 2010-2012, evidenciou diferenças estatisticamente significativas nas características seminais dos indivíduos analisados, principalmente em relação à concentração de espermatozoides e à sua morfologia.
"Pode-se dizer que a saúde e a fertilidade das futuras gerações estão em risco", diz Edson Borges Junior, especialista em Medicina Reprodutiva que está à frente do grupo.
De acordo com o especialista, a pesquisa mostrou uma queda de mais da metade do número de espermatozoides produzidos, assim como uma diminuição importante na porcentagem de espermatozoides normais (de 4,6% para 2,7%).
Outro resultado que também surpreendeu é que dobrou o número de homens com azoospermia, ou seja, sem espermatozoides no ejaculado. Esses dados mostram claramente que a qualidade do sêmen humano está se deteriorando ao longo dos anos.
"É fundamental encontrar e reduzir os agentes que estão causando esse declínio da fertilidade masculina. Mas já é possível afirmar que o aumento da frequência de anomalias reprodutivas masculinas reflete os efeitos adversos dos fatores ambientais ou de estilo de vida: maior exposição a agentes ocupacionais e ambientais, medicamentos, doenças sexualmente transmissíveis e maus hábitos nutricionais, entre outros fatores a serem investigados.
Obviamente, esses fatores não apenas estão ligados ao mau funcionamento do sistema reprodutivo, como também desencadeiam uma série de outras doenças."