O famoso "só mais cinco minutinhos" faz parte das manhãs de muita gente que faz uso do botão soneca - aquela função do celular que nos permite desligar momentaneamente o alarme e nos oferece mais alguns momentos de sono. Mas será mesmo que esse "sono" é vantajoso? Infelizmente, por mais gostoso que sejam aqueles minutos a mais dentro do edredom ou abraçando o travesseiro, a resposta é não, esse descanso não traz nenhum benefício para a saúde e nem entra para a conta de quantas horas de sono você teve naquele dia.
Você não está, de fato, descansando mais
Não é segredo nenhum que dormir bem é fundamental para a saúde do corpo humano. Diversos estudos já trouxeram evidências sólidas de como uma boa noite de sono pode ajudar a prevenir doenças como o Alzheimer, mantendo o bom funcionamento do cérebro; e até a nos deixar mais bonitos, já que interfere no processo de produção do colágeno da pele.
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Então, naturalmente, qualquer minuto a mais que conseguirmos passar na cama deve ser agarrado com unhas e dentes, certo? Não exatamente. "Colocar o despertador para acordar às 6h e levantar uma, duas horas depois não significa que descansamos nesse período, já que ficamos numa espécie de limbo, sem dormir nem acordar direito", explica Luciano Ribeiro, especialista em medicina do sono do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
Para falar desses prejuízos, é necessário antes entender como funciona o sono. Em linhas gerais, um ciclo de sono tem quatro estágios: o primeiro e o segundo são considerados leves, enquanto o terceiro é profundo e o quarto é o conhecido REM ("Rapid Eye Movement", ou "Movimento Rápido dos Olhos"). Um ciclo de sono completo costuma durar entre 90 e 110 minutos, e o normal é termos de quatro a seis ciclos durante uma noite de sono.
Todas as fases são importantes para o corpo. O período NREM (ou não REM, como são chamados os estágios de sono leve e profundo) está ligado com a liberação de hormônios e a integridade do sistema imunológico, além de ser o momento em que de fato descansamos -ou vivemos o chamado "sono restaurador". Já a fase REM é aquela em que sonhamos e está relacionada às memórias motoras e afetivas, ao aprendizado e também ao nosso estado emocional.
Bom, o que acontece é que os minutinhos a mais que você ganha apertando o botão soneca não chegam nem perto do tempo necessário para você se beneficiar deles. E não é só isso: quanto mais você passar pelo processo de "dorme-acorda", maiores as chances de acordar se sentindo mais cansado e até mentalmente confuso, já que dá sinais para o corpo de que pode iniciar um novo ciclo de sono quando isso não é verdade. "Essa fragmentação é o que provoca a sensação de sonolência", explica Pedro Genta, pneumologista e coordenador do Centro de Medicina do Sono do HCor.
E dá para piorar: além de não descansar a mais e ainda rastejar para fora da cama, você também está aumentando a tensão e o estresse nas manhãs, com mais chances de se atrasar ao demorar para pensar na roupa que vai vestir ou na arrumação da bolsa, por exemplo.
Quando o botão soneca não é o problema
Sejamos francos: se bem usado, o botão soneca pode, sim, nos dar alguns minutinhos de prazer curtindo uma preguiça ou despertando de forma gradual de manhã. O problema é o mau uso, ou seja, utilizar mais de uma vez durante a manhã e prolongar demais esse dorme-acorda.
Mas esse excesso pode esconder algo mais, como a má qualidade do sono. "O ideal para todos seria despertar sozinho, mas nem sempre isso é possível. Por isso usamos o despertador", explica Ribeiro. "No entanto, se ficamos lutando contra o sono pela manhã, pode significar que estamos dormindo pouco ou que a qualidade do sono está ruim, não permitindo o descanso", afirma.
Nesses casos, é preciso checar com um especialista se há algum problema, como insônia ou apneia do sono. Se a questão for mesmo apenas horas a menos, o recomendável é tentar se organizar para dormir por mais tempo.
Os chamados vespertinos -como são chamadas as pessoas que naturalmente dormem e acordam mais tarde- devem, por exemplo, tentar adaptar os horários dos compromissos para dormir mais. Fazer a higiene do sono, deitar mais cedo e adiantar tarefas da manhã são medidas que também podem ajudar.