Imagine a seguinte situação: um desconhecido que está ao redor passa mal e vomita próximo a você. A grande maioria das pessoas sente um desconforto e desvia imediatamente o olhar da desagradável cena. No entanto, esses episódios podem ir além do que a simples repulsa momentânea ocasionada pelo gesto. A emetofobia, popularmente conhecida como fobia de vômito, é um transtorno de ansiedade ainda não totalmente definido e estudado, mas que vem ganhando força à medida que novos casos da doença surgem.
A definição da emetofobia não está ligada apenas ao fato de sentir-se mal ao ver alguém vomitando, mas ao medo excessivo do ato e de, inclusive, fazê-lo na presença de outras pessoas, segundo o psiquiatra Carlos Eduardo Paula Leite, Supervisor da Psiquiatria na Unidade de Emergência Referenciada do Pronto Socorro do Hospital de Clínicas da Unicamp. "Este receio pode ter origem irracional, acentuado e persistente dessa situação. Estudos ainda não totalmente conclusivos sugerem possíveis fatores de risco como experiências de condicionamento em que o sujeito vivenciou este episódio na presença da família ou casos ocorridos durante a infância em que o paciente vomitou em público".
O divórcio traumático dos pais, a mudança de colégio ou uma condição médica em que os sintomas de uma infecção estão relacionados ao vômito, por exemplo, também são apontados como exemplos em casos relatados por crianças e jovens. Essa peculiar doença costuma se manifestar durante a adolescência e as mulheres são as maiores vítimas, totalizando 7%, enquanto os homens representam cerca de 3% das estatísticas.
Inserida em um grupo chamado de Fobias Específicas, a Emetofobia, segundo o psiquiatra, faz fronteira com outros transtornos psiquiátricos como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), a Ansiedade Social e, em crianças, o Transtorno de Ansiedade de Separação. O psiquiatra comenta que alguns dos portadores apresentam outras Fobias Específicas relacionadas ou não à sensação de nojo como a aversão por insetos.
Levado por um relevante impacto emocional, a vítima demonstra medo em qualquer circunstância do cotidiano. O campo profissional é afetado pelo espanto irrefreável do vômito em público e faz com que o sujeito não compareça ao local de trabalho. As longas viagens de avião ou de navio, o afastamento de outras pessoas, o medo de utilizar banheiros públicos, ir a restaurantes, comer alimentos como frutos do mar, doces ou laticínios e a recusa das crianças em frequentar a escola e sair de casa são as atitudes e consequências mais observadas pelos especialistas.
Gravidez x Emetofobia
A julgar pelo anseio de ser mãe, a grande maioria das mulheres vê neste período a realização do sonho de formar uma família. Contudo, pelo menos metade das portadoras da fobia do vômito não partilha deste mesmo anseio com receio dos enjôos ocasionados pelo período gestacional. "Essas mulheres costumam retardar ou mesmo evitar a gravidez, demonstrando que a emetofobia pode interferir até mesmo na vida reprodutiva. Em um estudo, 5,3% das entrevistadas referiram ter chegado a interromper uma gestação e 34% já haviam evitado algum tipo de cirurgia", revela o Dr. Carlos Eduardo Paula Leite.
Escassez de Informações
Os sintomas existem, o medo é real, a fobia é reconhecida, mas a falta de conhecimento sobre o assunto dificulta o tratamento adequado nesses casos. O que se sabe é que se o temor da doença alcançar um nível insuportável, o paciente deve e precisa recorrer à ajuda profissional para submeter-se ao exame psiquiátrico de seu estado mental, com o objetivo de descartar a presença de outro transtorno relacionado ao quadro. O psiquiatra salienta que o Canadá desenvolveu recentemente o Emetophobia Questionnaire, questionário que inclui 115 itens, permitindo a avaliação mais precisa de resultados terapêuticos.
Enquanto o Brasil não adere a esse método, a procura tardia por ajuda continua bloqueando a vida social e pessoal dos portadores e, para evitar esse sucessivo comportamento, tanto as vítimas quanto os psiquiatras devem investir na procura por informações que minimizem o sofrimento e limitação de seus pacientes.
Emetofobia na dramaturgia
Não se pode afirmar que a personagem Nina, protagonizado pela atriz Débora Falabella na novela Avenida Brasil, sofra de emetofobia. Entretanto, em muitas cenas em que a tensão, a raiva ou a ansiedade são vivenciadas por ela, o vômito é a válvula de escape para minimizar seus sentimentos momentâneos. Futuramente, com o avanço dos estudos sobre a doença, quem sabe a Nina pode ser um exemplo de mais uma vítima do problema? Mas até o momento são apenas suposições.