Constantemente temos acesso a notícias sobre depressão, uma doença que já acomete cerca de 121 milhões de pessoas no mundo inteiro. Mas afinal, todos os pontos estão claros? O psiquiatra professor da Unifesp Acioly Lacerda responde 10 questões sobre a síndrome que, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), é a quarta causa global de incapacidade e deve ser a segunda até o ano de 2020.
1. O que é depressão?
A depressão é uma doença complexa que afeta corpo e mente e manifesta-se por sintomas emocionais e físicos. Conhecida também como Transtorno Depressivo Maior (TDM), é caracterizada por sinais que interferem na habilidade para trabalhar, estudar, comer, dormir e apreciar atividades antes agradáveis.
2. Tristeza é sinônimo de depressão?
Não. Tristeza isolada não é depressão, apenas um sentimento universal, assim com ansiedade. Logo, não é necessariamente patológico, fazendo parte da experiência psíquica normal.
3. Quais são as causas da depressão?
As causas da depressão ainda são desconhecidas. A teoria neuroquímica é a mais aceita e sugere que uma disfunção no sistema nervoso central seja a responsável pela doença. A diminuição dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina no sistema nervoso central são os responsáveis tanto pelo aparecimento dos sintomas emocionais quanto físicos da depressão.
4. Quais são os principais sintomas?
A depressão se manifesta por sintomas emocionais e físicos. Os principais são:
- Sintomas emocionais: tristeza, perda de interesse, ansiedade, angústia, desesperança, estresse, culpa, perda da libido, dificuldade de raciocínio, indecisão, baixa auto-estima, alteração no sono, ideia suicida, entre outros;
- Sintomas físicos: baixa energia, alteração no sono, dores inexplicáveis pelo corpo (sem causa clínica definida), dor de cabeça, alteração no apetite, alterações gastrintestinais, alterações psicomotoras, entre outras.
5. Quais sinais comprovam um quadro de depressão?
Para o indivíduo ser diagnosticado como deprimido, deve reunir pelo menos cinco dos sintomas acima, sendo que um deles tem que ser tristeza ou perda do interesse em atividades antes prazerosas, com duração mínima de duas semanas.
6. Ao notar os sintomas, qual profissional de saúde devo procurar?
Ao reconhecer ou desconfiar de um quadro depressivo é imprescindível procurar um médico psiquiatra, ele é o profissional mais indicado para diagnosticar e tratar a depressão.
7. Todas as pessoas estão sujeitas a ter depressão?
Sim, porque existem diferentes motivos que predispõem a doença:
- fator genético - história familiar de depressão;
- estresse crônico - situações repetidas de estresse;
- perdas parentais precoces - morte de um dos genitores na infância;
- história de qualquer tipo de abuso na infância;
A depressão tem causas multifatoriais (fatores genéticos/biológicos e ambientais/ psicossociais) que sempre se somam para a determinação de uma apresentação clínica final. Nas mulheres, os períodos pré-menstrual, pós-parto e menopausa são de maior risco para desenvolver a doença também. Cerca de 17,5% da população apresentarão pelo menos um episódio depressivo ao longo da vida.
8. Há uma faixa etária mais vulnerável à doença?
Sim. A maioria dos casos de depressão acomete indivíduos entre 20 e 40 anos de idade. Mas é importante dizer que a doença pode se iniciar em qualquer faixa etária, da infância à terceira idade.
9. Qual o melhor tratamento?
A maioria (cerca de 2/3) dos pacientes com depressão apresenta dores persistentes combinadas com sintomas emocionais. Assim, a doença deve ser tratada através de psicoterapia e o uso de antidepressivo com dupla ação, como a duloxetina.
Essa classe de medicamento age de forma equilibrada sobre a serotonina e a noradrenalina, combatendo os sintomas emocionais e físicos. É importante deixar claro que isso não é uma regra, portanto varia de acordo com o paciente e que a procura por ajuda médica é indispensável.
10. A depressão tem cura?
O objetivo central do tratamento da depressão é a remissão (melhora completa da sintomatologia depressiva). Como grande parte das doenças, há sempre um risco de, mesmo tratado corretamente, o paciente apresentar recaída no futuro (cerca de 80% das pessoas que apresentaram um episódio depressivo devem apresentar um ou mais episódios adicionais).
A depressão, portanto, é na maioria das vezes, uma doença crônica, assim como diabetes e hipertensão. Quando tratada adequadamente, o paciente leva uma vida absolutamente normal.