A OMS divulgou novo relatório sobre a epidemia de ebola na África. Os registros mostram que mais de três mil casos já foram confirmados e 1,5 mil deles resultaram em mortes nos quatro países atingidos pela doença (Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria).
Em meio ao cenário alarmante, uma descoberta genética apontou um novo desafio para a contenção do surto: na medida em que passa de uma pessoa a outra, o ebola está sofrendo mutações duas vezes mais depressa do que em outros animais hospedeiros, como o morcego frugívoro.
A revista Science publicou um estudo que sequenciou amostras do genoma do vírus nos primeiros 78 pacientes a serem infectados em Serra Leoa. Os pesquisadores registraram mais de 300 alterações genéticas localizadas sobretudo na glicoproteína, molécula responsável pela ligação do vírus nas nossas células – processo a partir do qual ele começa a se reproduzir. É por meio desta proteína que o sistema imunológico identifica o parasita.
"Como muitas das mutações alteram sequências protéicas e outros alvos biologicamente significativos, elas devem ser monitoradas para impactos em diagnósticos, vacinas e terapias críticas a uma resposta à epidemia", diz o artigo.
Além de impor novas dificuldades ao tratamento que já enfrenta diversas barreiras, as mutações podem comprometer também a eficácia de drogas experimentais como a ZMapp, que curou infectados na Libéria e dois missionários americanos que contraíram ebola em Serra Leoa.
A partir destes registros de genoma, foi possível reconstruir a rota do vírus naquele país. Os pesquisadores descobriram que a via de entrada da doença ocorreu no dia 25 de maio, quando diversas pessoas infectadas de Guiné atenderam ao chamado de uma curandeira tribal de Serra Leoa que alegava ser capaz de curar a enfermidade.
Ao invés de salvar aqueles que foram ao seu encontro, a xamã acabou adoecendo e morreu, sendo velada em um funeral com grande comoção. Uma delas era uma jovem grávida que se infectou e viajou para o Hospital Estatal de Kenema, onde foi diagnosticada com Ebola. Como o ebola é transmitido mesmo por cadáveres, a partir deste evento a epidemia começou a se espalhar exponencialmente pelo país.
Numa medida pouco comum, os pesquisadores disponibilizaram os dados na internet, para garantir que colegas pudessem ter um acesso mais dinâmico e se instrumentalizar na luta contra o surto. Dos 58 autores e co-autores da pesquisa, cinco morreram vítimas do vírus, entre eles o médico Sheik Umar Khan, considerado um herói em Serra Leoa e uma das principais referências mundiais no combate ao ebola.
(Com informações Galileu /ABC science )