O fato de já ocorrer transmissão local do novo coronavírus em São Paulo, ainda que relacionada a um caso importado, deve servir de alerta para que os serviços de saúde priorizem grupos especiais, como os mais velhos e com doenças associadas, que têm mais riscos de complicações e mortes.
"Temos que tentar reduzir não só as chances dessas pessoas pegarem o vírus como, se pegarem, focar naquelas com sintomas de doença mais agressiva", afirma o infectologista Esper Kallás, professor da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo ele, a literatura mostra que o coronavírus causa adoecimento, principalmente, em pessoas acima de 40 anos de idade. "Vai aumentando a proporção com o avançar da idade, depois dos 50, 60, 70, 80 anos. Essas pessoas precisam ter atenção especial."
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Outra prioridade, segundo o médico, será a proteção de pessoas que estão em serviços de saúde, além da criação de planos de contingência caso haja alta transmissão da doença nesses locais.
"Os mais vulneráveis são os profissionais de saúde. Na China, muitos que desconheciam a forma de aquisição do vírus acabaram pegando e, alguns, morrendo. Agora a gente sabe da transmissão por gotículas e por contato das superfícies contaminadas."
Para ele, esses profissionais precisam ser continuamente treinados, saber como se proteger da melhor forma possível e ter à disposição produtos para essa proteção, como luvas, máscaras e álcool gel.
"Aqueles que começarem a ter sintomas devem deixar os serviços de saúde para não ter o risco de passar justamente para as pessoas já doentes, internadas no hospital."
Kallás diz que os gestores devem pensar em formas de orientar as pessoas sobre quais são as situações em que os sintomas da gripe indicam um quadro leve, que pode ser cuidado em casa com dipirona, hidratação e repouso, e quais precisam ser vistos por um médico ou um hospital.
"Se a pessoa tem nariz escorrendo, um pouquinho de tosse e uma febre baixa, a doença é benigna. Se ela começa a ter tosse mais intensa, com catarro com pus, febre alta com calafrios, falta de ar, com as ponta dos dedos e os lábios arroxeados, tem que ir para o hospital."
Por que não levar todo mundo para o hospital? "O sujeito que vai para o hospital com dor de cabeça e um pouco de febre tem grande chance de pegar coronavírus na sala de espera do sujeito ao lado."
Segundo ele, se começar a ter muitos casos de coronavírus não adianta fazer testes diagnóstico em todo mundo.
"A prioridade deve ser a população com risco de ter a doença mais grave e profissionais de saúde."
O infectologista Caio Rosenthal tem opinião parecida. "Precisamos prestar atenção nos casos muito sintomáticos. Então, só procure o serviço de saúde se não estiver bem mesmo. Senão é muito prejudicial, você não tem nada a ganhar. Não existe remédio específico. Não é como a gripe por influenza, que, se você tem sintomas mais significativos tem o oseltamivir [Tamiflu]."
De acordo com ele, no consultório, a grande demanda ainda são os viajantes. "Existem escritórios com 150, 200 pessoas que trabalham com janelas fechadas e só no ar-condicionado. E com funcionários indo e voltando da Europa, dos EUA o tempo todo. Esse é um problema maior para o qual a gente não tem solução."
Para o infectologista Leonardo Weimann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, ainda não há motivo para novas orientações para a população além daquelas já divulgadas, uma vez que não existem indícios de transmissão comunitária. "No momento, o indicado é manter a higiene das mãos e a etiqueta respiratória."