Oito em cada 10 crianças que nascem em um hospital particular vêm ao mundo por meio de uma cirurgia. Esta é a realidade que o projeto Parto Adequado pretende mudar. Lançado no ano passado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Hospital Israelita Albert Einstein – com o apoio do Ministério da Saúde e Institute for Healhcare Improvement (IHI) –, o projeto deve criar mecanismos de organização e sensibilização para reduzir a taxa de partos cesáreos realizados na rede privada de saúde no Brasil, que é de 84,6%. O percentual supera e muito a taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 15%.
Segundo a gerente executiva de Aprimoramento do Relacionamento entre Operadoras e Prestadores da ANS, Jacqueline Torres, o projeto vai ajudar os hospitais participantes a se reorganizarem por meio de evidências científicas, buscando modelos assistenciais que se adaptem melhor às realidades e objetivos dos hospitais. O projeto-piloto deve ser concluído em setembro de 2016 e até lá serão realizados vários encontros, com aplicação de modelos, além do monitoramento de resultados preliminares.
Por enquanto, ainda não há meta geral de redução, mas os hospitais estão estipulando índices viáveis dentro do contexto de cada instituição. A partir da definição desses objetivos será possível traçar um índice nacional a ser atingido.
"Estamos muito motivados. Claro que o resultado vai aparecer ao longo do processo e o projeto-piloto vai nos ajudar a entender onde acertamos e onde temos que fazer ajustes, mas acreditamos que no final de todo o processo, quando conseguirmos modificar o sistema poderemos melhorar a atenção ao parto para toda a população", afirma Jacqueline.
Ela explica que o desafio não é somente conscientizar gestantes e médicos, mas modificar o sistema assistencial atual. "Da forma como o sistema está organizado leva médicos a optar pela realização da cesárea: ele tem um número grande de pacientes para atender, recebe por procedimento, enfim. O atendimento pode ser feito, por exemplo, por uma equipe de plantão que terá sempre um médico e uma enfermeira obstetra para realizar o parto", cita.
Estão participando 40 hospitais – entre eles cinco maternidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde. Entre as instituições privadas, oito estão entre as 30 maiores em volume de partos do País e 11 entre as 100 maiores, o que demonstra o compromisso social com a melhoria da qualidade da atenção ao parto e nascimento.
Esses hospitais possuem taxa de cesarianas de 88,7% – superior à identificada na saúde suplementar (84%) e na rede pública (40%). Já os estabelecimentos do SUS foram escolhidos por apresentarem percentual de cesarianas acima de 60% e por realizarem mais de mil partos por ano.