Estudos apontam que, atualmente, em torno de 14,3% das crianças brasileiras de 6 a 9 anos e 21,7% dos adolescentes de 10 a 19 anos são considerados obesos. Os números para excesso de peso, na mesma pesquisa são de 33,5% para crianças e 40% para os adolescentes. Os índices são semelhantes aos registrados em países como os Estados Unidos, onde aproximadamente 27,7% de crianças 6 a 10 anos e 17% de jovens estão acima do peso ideal.
A principal causa desse problema é o excesso do consumo de alimentos industrializados, ricos em açúcares e gorduras. Tal preferência alimentar, somada à falta da prática de atividades físicas regulares e muitas horas em frente às telas de computadores, celulares, TVs e videogames, contribui para o crescimento da população obesa cada vez mais cedo.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que entre os anos de 2002 e 2003, 16,7% dos meninos entre 10 e 19 anos apresentavam excesso de peso. Entre as meninas o índice era de 15,1%. Já entre 2008 e 2009, os percentuais saltaram para 21,7% entre os meninos e 19,4% entre as meninas. No ano de 1970, o registro do IBGE quanto ao excesso de peso infantil era de apenas 3,7%.
"O ganho excessivo de peso na infância e adolescência contribui para o aparecimento cada vez mais precoce de doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto", alerta Cláudia Cozer, coordenadora do Núcleo Avançado de Obesidade e Transtornos Alimentares (Nota), do Hospital Sírio-Libanês.
A médica destaca, ainda, a importância dos pais, professores e familiares na aquisição de hábitos alimentares saudáveis por parte das crianças e adolescentes. "Crianças pequenas não vão às compras, não são elas que têm o poder de decisão do que entra no carrinho de supermercado ou de qual será o cardápio de almoço e jantar. São os pais quem decidem como será a refeição dos pequenos. Não basta ter alimentos saudáveis para oferecer aos filhos, os pais têm que comer igual as crianças, eles têm de ser exemplos. Por isso, pai e mãe são decisivos nas escolhas alimentares dos filhos. Pais com maus hábitos alimentares tendem a criar filhos com maus hábitos alimentares", afirma a especialista.
A médica ainda faz um alerta aos pais sobre a importância de verificarem os índices nutricionais do que as crianças consomem nas escolas. "Salgadinhos industrializados, frituras, doces e refrigerantes contêm altos teores de açúcar, sal e conservantes. Eles devem ser substituídos por alimentos frescos, pouco processados, frutas e sucos naturais", diz a especialista.
Sedentarismo
A vida moderna, principalmente nos grandes centros urbanos, leva muitas famílias a não incentivar a criança à prática de atividade física. Jogos eletrônicos, videogames e computadores substituem atividades ao ar livre como andar de bicicleta e jogar bola. O recomendado pelos especialistas é que crianças e adolescentes pratiquem pelo menos uma hora de atividade física por dia ou diminuam as horas gastas com aparelhos eletrônicos para 4 horas/dia.
Tratamento: visão multidisciplinar
Segundo Sérgio Zanetta, superintendente de Filantropia do Hospital Sírio-Libanês, a obesidade infantil não deve ser encarada como fato isolado e sim como uma questão que precisa ser tratada de forma abrangente. "A abordagem tem que ser feita de forma multiprofissional, por médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos", aconselha e finaliza.